7/22/2009

Bueiro

trechos do livro Bueiro

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Estou jogando péssimo hoje, mas minha cara ainda tá dormente e eu nem comi nada. A grana que eu peguei em casa vai servir pra eu comprar um pacote de Negresco e um refri. Pelo menos não to igual meu primo, que já perdeu dois dentes por que gosta de mastigar o saquinho. Isso é uma merda, a gente cheira, se acha o dono do mundo, depois fica ai, todo se lamentando da vida, daí, pra esquecer, vai e cheira outra vez. Eu só cheiro umas duas vezes por semana, no máximo três. Até porque eu nem tenho dinheiro pra ficar gastando de bobeira.

Chegou o Piolho, da última vez que eu tive que tomar glicose ele que foi comigo, gente-fina toda vida esse moleque. “Ae Rato, vamô lá numa festa mais tarde, na casa da Cátia?”. Claro que vou, maconha e cerveja na faixa, com certeza. Tá na hora de faturar, sempre no mesmo ponto de ônibus: “Moço, perdi meu dinheiro e tenho que ir pra casa, será que o senhor pode me dar o dinheiro da passagem?”. Quando eu pego dinheiro, eu entro em qualquer busão, passo por baixo da roleta e desço lá em cima. Às vezes pergunto se passa em um lugar que não tem nada a ver com o caminho dele e digo que peguei errado, pra descer no próximo. Com essa cara de garotinho da mamãe é ruim de acharem que eu to mentindo. Só tenho pena de pedir pra mulher e pra tiazinha, mas quando aperta, não quero nem saber, peço pra qualquer um.

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