7/05/2013

este medicamento não deve ser usado em suspeita de dengue

ps2alguém já parou e refletiu sobre o significado destas palavras? elas querem dizer “os sintomas que você está tratando podem não ser gripe ou resfriado, podem ser dengue. se você mascarar estas reações, com certeza irá morrer”.

estas palavras podem ser perfeitamente adaptadas ao que ocorreu ontem no leblon e nas repercussões: pessoas reclamando que a polícia dispersou os manifestantes com bombas de gás e balas de borracha, repórteres foram agredidos, alegações de que a mídia manipula e é (junto com a força policial) fascista.

não vou deslegitimar o protesto, que isto fique bem claro, farei só umas considerações, a conclusão deixo a cargo do discernimento de cada um, afinal, não quero ser rotulado de mídia manipuladora, ou reaça (como eu detesto esta palavra, junto com ad hominem, falácia e afins, recursos assaz típicos de péssimos retóricos).

a primeira reclamação é sobre a brutalidade policial: não admito violência de qualquer natureza, e pra mim é uma agressão ouvir isto como se fosse a grande mazela do estado. me condoo aos que tiveram os olhos irritados, o corpo alvejado e marcado pelas balas de borracha, aos que tomaram golpes de cassetete e foram empurrados com escudo pelo choque. gostaria de lembrar-lhes que na favela (tem uma bem ali, subindo a niemeyer) os moradores são dispersados com rajadas de fuzil para o alto, com pescoções, com hélices de helicópteros sobre suas cabeças. eu gostaria que vocês atacassem a doença, não só o sintoma que chegou a vocês.

meu segundo ponto é a repulsa contra jornalistas. em qualquer tempo, em qualquer cultura, em qualquer lugar, a regra é clara: não ataque o mensageiro. não ataque o mensageiro. não ataque o mensageiro. três vezes pra ser verdadeiro. não ataque o mensageiro. a quarta pra casar lógica com realidade. eu sempre critiquei a mídia, e o que eu fiz? comecei escrevendo meus fanzines, mostrando onde estavam os erros, cresci, fui conhecer visões e depois me formei em jornalismo. se a mídia é manipuladora, seja humilde e inteligente para saber discernir o que é fato e o que é falso. não existe notícia ficcional, e se você não consegue entender isto a culpa não é da mídia, nem do meio e nem da educação, é única e exclusivamente sua.

acusam a comunicação e o estado de fascista, mas praticam a censura, como chama isto? é interessante notar que ao passo que os bem nascidos reclamam da imprensa a primeira coisa que os menos favorecidos gritam quando a polícia chega esculachando é “vou chamar o jornal! vou ligar pra globo! vou ligar pra record!”. muitas vezes nós (sim, eu também! morei vinte anos na cohab e sei bem como é!) não temos quem nos defenda, por que vós estais muito ocupados com vossos dramas. não recrimino, nem discrimino, cada um sabe onde dói mais.

isto vale para aquele rapaz que virou a cabeça da rainha na guilhotina, que é julgado por ser funcionário de uma emissora, por passar férias em cancun. oras, se vocês podem viajar à disney com a grana do pai, por que o cara não pode ir ao caribe com a grana que ele batalhou?

reitero que não quero deslegitimar o protesto, pelo contrário – fico muito feliz que estejam lutando pelo que acreditam estar certo e ser o melhor para o próximo, este é bem meu ponto: não olhem apenas para o próprio umbigo, olhem ao redor, pese o que será de bem comum.

temo por meus amigos que estavam no leblon ontem, mas terei imensa vergonha se algum deles atacou a imprensa. a mesma vergonha que sinto quando compartilham capas falsas da veja.

caso acha suspeita de dengue, vá à doença, não em apenas um sintoma. sob risco de perder a vida.

6/12/2013

anacronia futura



bastante tempo você me acompanhou
regressando as memórias vejo, quem te procurava era eu
universo físico e temporal
na perfeita união nos colocou
ainda que não percebas por insegurança

eufemismos são desnecessários
te mostrarei todo dia o quanto
amo

5/22/2013

vida

sentou-se de frente ao teclado e acendeu o último cigarro do maço. refletiu se deveria comprar mais um ou dar um tempo. o cinzeiro molhado cheio de guimbas apagara seu pirilampo pela metade, o que o fez refletir sobre a momentaneidade da existência.

vaga ideia sobre escrever, tamborilava o notebook. há muito ideias claras não saiam da cachola, apenas comentários esparcos sobre um acontecimento e outro postado por amigos no facebook. se outrora escrevera contos, migrara para poemas e abandonara por amores fugazes.

decidido a virar, cortou o cabelo e raspou a barba. visual limpo, sente a leveza de outra pessoa ao espelho. um copo de bourbon, meio litro e dois dias, seguia feliz a caminhar a estrada, inerte.

1/09/2013

segue o diálogo

A abstração do jovem não alcançava o que o velho dizia. Mesmo assim, não lhe passava que fosse sandice. Há muito aprendera com o mestre não colocar culpa em outrem por suas limitações.

- Como poderei transformar ideias opostas em complementos, fazendo agirem harmonicamente?- estava cada vez mais confuso.

- Não se duvida, se aprende. O paço do fracasso é a tentativa, não se é querendo ser.

- Por favor, mestre, seja mais específico... – o jovem estava desesperado.

- Seja independente agindo com os demais, não somos o oásis, não somos o deserto, somos oásis em desertos irmãos, isto está dentro de cada um. Contempla a vida interagindo, não atue sem pensar, nem pensa muito sem ação. Esqueça o que ser, apenas seja, tua transformação no que almeja não está ancorada em nada além de ti. Quando vivemos a vida em antagonismo, forças sempre entrarão em choque. Se pensarmos em oximoro, antes o que era oposição tornar-se-á fluidez.