8/23/2007

Carlos "Ipanema Gump" Leonam

Imagino que todos conheçam "Forrest Gump", uma personagem de Hollywood que sentado em um ponto de ônibus vai contando sua vida. Para surpresa de seus interlocutores, ele conta ter participado de momentos decisivos da história americana, como decidir uma final de campeonato te ping-pong contra a China no governo Mao e ter influenciado na fundação da Apple, empresa de informática do empresário Steve Jobs.


Nos primeiros minutos de conversa com o fotógrafo e jornalista Carlos Leoanm (Rosado Penna) é impossível não lembrar de Forrest, mas com uma diferença: é tudo verdade! Leonam criou as palmas do por do sol do Arpoador, sugeriu que a rua Montenegro mudasse de nome para rua Vinícius de Moraes, entre outras peripécias. Até ir a Milão jogar futebol de botão com Chico Buarque ele foi.


Sabendo de tudo isso, e embasado em seu livro "Degraus de Ipanema", já me preparava pra dizer "não adianta vir com troça que eu sei tudo, heim!", ele adivinhou e sem eu falar nada me cumprimenta e diz "pra que entrevista sobre Ipanema? tá tudo lá, no livro, vamos logo que só temos 20 minutos, me desculpe".


Desarmado só me resta gravar, pois uma pergunta gera dez minutos de gravação "como era a vida noturna em Ipanema?", de memória começa "A Noite de Ipanema na verdade começa em Copacabana, nos anos 50, no Midnight, Copacabana Palace, que tinha até shows internacionais". Cita o Odeon, o Sacha e o Vogue, que pegou fogo em 55.


Mas e Ipanema Leonam? Veio depois, bem depois, ainda tinha o Black Horse, primeira boate do Brasil nas memórias do jornalista, um verdadeiro arquivo ambulante.


Durante a conversa ele vai descrevendo nomes e lugares, com precisão aritmética, até empacar em um bar do Leblon, que veio bem depois do Antonio´s (que serviu de palco para um "barata voa" com o chapéu de Mick Jagger, na sua primeira visita ao Brasil, adivinha quem levou ele lá?), tentei em vão ajudar, falando um monte de nomes errados, até ouvir um "você tá falando bobagem rapaz", deixamos o nome de lado... (me lembrei cinco minutos depois o nome do bar de moderninhos: Bracarense).


Ipanema Leonam! Ah, em Ipanema ficava a Sucata, onde começaram os Mutantes, Caetano, Gil, "aqui por Ipanema tinha uma discoteca chamada Number One que era discoteca e musica ao vivo, uma casa de shows do Ronaldo Boscoli e do Miele que durou pouco. Nos anos 40 e 50 a gente não pode esquecer na noite e no dia de Ipanema o legendário Zepelim, que nos anos 70 foi comprado pelo Ricardo Amaral que fez um reforma completa para protesto dos boêmios de Ipanema. Embora o Zepelim se comia grande comida alemã fosse um super pé sujo onde e o Ricardo sofisticou "


O tempo já estava acabando, o celular já tinha tocado, mas em cinco minutos ele me conta a história do Pizzaiolo e suas pedras com pés e mãos de artistas ipanemenses (não sei se por modéstia ou não, ele "esqueceu" de falar que suas mãos também estavam gravadas, só descobri no dia seguinte).


E a segunda e última pergunta "A noite daqui está migrando para o Leblon?", a resposta foi literal: " É verdade, porque aqui só tem a Baronetti... Bom no auge dos anos 70, imperou no Rio (e todas as outras acabaram) o Hipopotamus, do Ricardo Amaral, que era um club prive. Príncipe Charles foi lá, Julio Iglesias estava começando e cantou lá. Todo mundo que vinha ao Rio e perguntava onde era a noite ia para lá".


Saio da entrevista surpreso de ter feito duas perguntas, em vinte minutos, e receber tanta informação. Uma enciclopédia ipanemense ambulante, longe de só contar estórias.