5/17/2011

o triste destino de alexander srati bildotsa

Teve que parar no meio da rua e respirar fundo. Não era a primeira vez aquele dia, mas ali, no meio daquele movimentado cruzamento, era demais para ele. Pensou rápido se deveria voltar para casa da mãe ou visitar àquele boteco de esquina. Era contra seus princípios, todavia, já abrira mão deles mais cedo.

Em pleno restaurante, durante o almoço. Sentiu uma contração e uma reviravolta. Levantou-se e foi. Começou em pé, tinha essa habilidade. Quando viu os protetores de assento de papel, capitulou. Forrou dois deles e relaxou. Deve ter ficado uns dez minutos longe da mesa. Não cronometrou e nem podia ter noção de tempo.

A situação era muito delicada. Caminhando pela rua se perguntava se as pessoas ao seu redor entendiam os sofrimento e desespero. Amaldiçoou a todos, e à civilização oriental. E ocidental. Desejou ser um simiano. Dessa forma poderia acabar com seu mau-estar em plena selva. De onde estava buscou o celular, atrapalhado, e discou o número da mãe. Recomendou a ela que mandasse os porteiros abrirem de pronto o portão.

Passou por eles como uma bala balbuciando “estou aperriado”. Sexto andar. O elevador estava no sexto andar e ele deveria ir ao décimo quarto. Vinte andares no total. Dentro dele, muitas contrações. Resolveu fazer uma concessão. Sabia que não era bom, muito arriscado.

Na primeira, nada além de uma pequena sensação de alívio, nenhum drama. No fundo sabia que não deveria ir a tanto, mas teve a segunda. Sentiu-se melhor, apesar de plena noção de perigo. Na terceira, um pequeno incidente. Remediável, desagradável, entretanto, remediável.

Abriu a porta, pensou onde estaria a mãe e entrou no apartamento, escuro. Carregava algumas sacolas e usava sua jaqueta. Lhe incomodava a jaqueta, resolveu tirá-la. Talvez não devesse ter feito isso. Talvez se o elevador estivesse no primeiro andar. Não, com toda certeza não. Tratava-se da próximidade, é sempre assim. O corpo entendera mal a proximidade. Chegando a menos de um metro da porta o pior aconteceu.

Sentiu sua roupa pesada e o calor macio a escorrer pela perna. O fedor invadiu o ambiente. Chamou pela mãe. Não acreditava que isso havia acontecido, tão perto. Enquanto entrava no banheiro e improvisava, tinha essas considerações em mente. O elevador poderia estar no sexto, no décimo, ou no térreo. Seria sempre isso, o corpo não entenderia corretamente o alívio por proximidade.

Lavou as peças sob o chuveiro, entregou para que a mãe as colocasse na máquina de lavar, finalizou o asseio, vestiu-se e partiu.