10/17/2015

Pesquisa para pré-projeto I Salão Mestre D'Armas

Fundada oficialmente em 19 de agosto de 1859, Planaltina é a cidade mais antiga do Distrito Federal. Entretanto, sua fábula começa muito antes desta data – segundo a memória popular, um habilidoso artesão instalou-se na região para atender à demanda gerada pela exploração de ouro e esmeralda que se iniciara em meados do século XVIII. Armeiro talentoso, logo recebeu o título de Mestre D’Armas, devido ao belo quefazer restaurando armamento de exploradores e moradores. A tradição ligada à arte e ao trabalho continua intrincada na atual Região Administrativa VI, como é classificada.
Com objetivo de resgatar esta história, a Associação dos Amigos do Centro Histórico de Planaltina – DF (AACHP) organiza no Museu Histórico e Artístico de Planaltina o I Salão Mestre D´Armas – Mostra de Arte Contemporânea, selecionando 20 obras de diversas vertentes e de artistas do Distrito Federal e entorno. Elas ficarão expostas durante dois meses, depois passam a integrar acervo da Secretaria de Cultura.

Nascimento de Planaltina
Para dar vazão ao ouro extraído no ‘Goyaz’, foram abertas duas enormes estradas, ligando o Planalto Central a Rio de Janeiro e Salvador, as duas cidades que antecederam Brasília como capital do país. Planaltina se desenvolve ao longo da via construída em 1731, que conectava à Bahia. Estas pequenas coincidências reforçam a “predestinação” da região. A primeira menção ao nome Mestre D’Armas que se conhece é de 30 de abril de 1758, na carta de Antônio da Cunha Sotomaior, ouvidor geral de Goiás, dirigida ao rei de Portugal, Dom José. O mapa mais antigo a registrar o arraial data de 1773. Ainda assim, 23 anos antes, o cartógrafo genovês Francisco Tossi Colombina já sugerira a mudança da capital do Brasil para essa região.
Ponto de entreposto utilizado como referência por viajantes, com o tempo passa a atrair empresários e fazendeiros. Ainda assim, com o esvaziamento das jazidas de pedras e ouro, entra em declínio no início do século XIX. Na mesma época, uma epidemia assola os moradores das sete fazendas constituintes do Arraial Mestre D’Armas. Longe dos principais centros urbanos, a comunidade se apega na fé e promete um terreno para São Sebastião, onde construiriam uma capela, caso a moléstia fosse erradicada. A oferta é cumprida no dia 20 de janeiro 1811, data que celebra o santo, momento em que celebram missa de ação de graças. Até os dias atuais, fortes laços fraternais e religiosos unem os planaltinenses.
Em 1833, um decreto cria várias sedes de municípios nos arredores. Com a economia crescendo desde a criação da capela, Planaltina passa a ser disputada: inicialmente pertencendo à Luziânia (então Vila de Santa Luzia), quatro anos depois é transferida para Julgado de Couros (atual Formosa). Disputas locais de poder fazem com que mude constantemente de “dono”, até ser emancipada em 19 de agosto de 1859.

Futura capital do país
O destino da atual capital nacional começa a tomar forma em 1883, a partir de um sonho de São João Bosco, fundador da Congregação dos Salesianos: uma nova civilização deveria ser estabelecida próxima a um lago entre os paralelos sul 15º e 20º. Logo, a Constituição de 1891 destina uma área de 14mil Km² para construção da nova sede do governo, baseada no relato de Dom Bosco.
A demarcação começa no ano seguinte, pela Comissão Exploradora do Planalto Central, chefiada por Louis Ferdinand Cruls, geógrafo belga. Designada pelo presidente Floriano Peixoto, a ‘Missão Cruls’ (como se tornou conhecida) demarcou a área considerada adequada para a futura capital, que ficou conhecida como “Quadrilátero Cruls” (formado pelas áreas que incluíam as lagoas de Formosa, Feia e Mestre D’Armas). A pedra fundamental foi lançada em 1922, e hoje é um dos principais pontos turísticos de Planaltina, junto à Igrejinha de São Sebastião, Morro da Capelinha, entre outros.

Fundação de Brasília
Com inauguração de Brasília, em 1960, a cidade é dividida em duas partes - Planaltina e Planaltina de Goiás - e perde gradativamente sua representatividade, sendo ofuscada pela Região Administrativa sede dos governos federal e distrital. Ainda assim, a região resiste como ponto de efervescência cultural, sediando a Festa do Divino Espírito Santo e a Folia de Reis, a Comunidade Vale do Amanhecer, além do próprio Museu Histórico e Artístico de Planaltina, bastião erguido para preservar e fomentar a vocação cultural da cidade.

I Salão Mestre D’Armas
Em 2015, a Associação dos Amigos do Centro Histórico de Planaltina (AACHP) lança o I Salão Mestre D´Armas – Mostra de Arte Contemporânea. A iniciativa tem como objetivo valorizar a história da região, selecionando trabalhos de artistas do Distrito Federal e entorno, montando exposição no Museu Histórico e Artístico de Planaltina¸ destinada aos moradores e visitantes. Fazem parte do projeto ciclos de palestras educativas em vários pontos do Distrito Federal, mantendo acesa a chama do armeiro que se espalhava por todo o território nacional e pela história, por meio de seu trabalho dedicado e cuidadoso.

Fontes:
“DE MESTRE D´ARMAS A PLANALTINA - Reflexão Histórico-Crítica sobre a Fundação da Cidade” – SILVA, Elias Manoel da; disponível em: http://bit.ly/1iqzcqh

“História de Planaltina” - Administração Regional de Planaltina; disponível em: http://bit.ly/1JNf6iQ

“Do quadrilátero Cruls ao patrimônio histórico e cultural da humanidade” – Senado Federal; disponível em: http://bit.ly/1JNsoMc

“Planaltina” - Biblioteca do IBGE; disponível em: http://bit.ly/1JKXu51

*Infelizmente não tive tempo para participar do projeto em si, mas acho uma pena desperdiçar a pesquisa.

Meu texto não deve ser usado no I Salão Mestre D'Armas, e as datas não correspondem ao cronograma oficial, portanto, fica como registro da história de Planaltina.

Não tenho responsabilidade sobre valores e condições descritas, assim como datas, com relação ao I Salão  Mestre D'Armas.

Este texto é fruto de pesquisa, como relatado nas fontes, e material cedido pela produção do I Salão Mestre D'Armas, com organização autoral minha, portanto, protegido contra plágio.

Não tenho nenhuma relação com qualquer evento ou instituição descritos.

6/05/2015

Circo

Veja a Equilibrista que pelo Palhaço
Aquele de coração amargo como aço
Mas manso com a Domadora
A brava e destemida
Porém enganada pelo Ilusionista
De truques e espertezas
Todavia joguete da Malabarista
Com mãos hábeis e ágeis
Ainda que desajeitada com Anão
Pequeno de grande fúria
Sujeitada pelo Mestre de Cerimônia, está caída
  


1/28/2015

Campanha contra a educação nível "o próximo"


Tenho perdido bastante tempo lendo os comentários em páginas e portais de notícia, como UOL, Folha de S.Paulo, Estadão e VEJA, e cada vez mais noto que o brasileiro está se movendo do que se acreditava ser um povo cordial e solidário, para o que ele imagina ser um ideal a favor da evolução: a mesquinharia.
Em toda e qualquer notícia, seja sobre ‪#‎corrupção, seja sobre #‎bbb15, há comentários pregando aniquilação da solidariedade, da ajuda, ou mesmo da assistência a quem é menos favorecido. Chavões como "se tivesse estudando isto não teria acontecido", "os gays são abominações", "anda pelada pela rua e não quer ser estuprada", "a culpa é do governo que dá bolsa família/preso/crack/prostituição pra este bando de vagabundo", "bbb é coisa de gente burra" são frequentes, e me desapontam com o povo que eu deveria ser parte.
Geralmente patriotismo e religião são os estandartes destas pessoas, mas o curioso é que ambos conceitos não têm ligação alguma com o ódio entranhado nestas declarações, já que "patriotismo" versa que devemos cuidar de nossa pátria e do nosso povo, e religião prega que nos aproximamos cada vez mais do "religare" quando praticamos a misericórdia e a caridade.
Abandonei o uso destas duas palavras exatamente por esta transformação em suas prosódias semânticas, de algo que deveria me conectar ao próximo, para algo que segrega e afasta, com intenção destrutiva.
entendo de onde vem este pensamento, quais são suas influências, e também sei qual o destino final desta "evolução", há muitos exemplos históricos. Minha esperança de que não cheguemos ao desfecho reside justamente no que mais abomino: a ignorância pura e simples.
O brasileiro, meus "compatriotas", ao contrário de sua recente e pretensa erudição, queimou fases e não se educou, logo, não tem as ferramentas necessárias para chegar onde pensa que gostaria. Apesar de bradar que "a globo não passa nada que presta" ele não se apegou a livros e não busca fontes passivas de informação, continua ali, com sua aplicação hipodérmica de "cultura".
Enquanto isto, sigo acreditando que educar-se e ajudar ao próximo é o único caminha para iluminação.


[nota: tenho uma “linha de postagens em meu perfil do facebook que sempre vão com “campanha contra a educação + (uma observação)”. Ao contrário de ser contra a educação em si, a ideia é mostrar o quanto desvalorizamos o educar]

1/05/2015

Como detectar um babaca no primeiro encontro

Valorize-se, abiga!
Tem um mar de publicações na internet que dizem como a "menina ideal" deve se comportar no primeiro encontro: o que dizer, como se vestir, e até o que pedir no restaurante. O que não tem muito são textos dizendo como as meninas podem reconhecer um babaca no primeiro encontro.
Não somos caga regras, por isto vamos enumerar bem rapidinho dicas de como identificar este "asshole".

Ele não está interessado em você

Amiga, se o cara falar demais de si mesmo, sai fora, é uma furada! Ele não vai te dar muita atenção na vida, e você estará condenada a ficar em segundo, terceiro, quarto, quinto planos, já que antes vem ele, depois os amigos dele, depois o trabalho dele, depois a diversão dele. Tudo que for dele vai ser sempre mais foda, então foda-se ele. 

Ele não te enxerga como pessoa

Se ele está muito interessado em mostrar as posses dele, saiba que você também será uma posse. Assim como ele exibe o carrão do ano, também vai te exibir para os amigos. Assim que você virar o ano, ele vai te trocar por um modelo mais recente. Sai desta, querida, não trate como camaro quem te trata como ford de bigode.

Ele não liga para o que você sente

Faça um teste: já no primeiro encontro, mande uma história bem triste. Se você assustar o boy é por que ele não tinha magia. Se o fulano não quer saber dos teus sentimentos logo no primeiro encontro, imagina se vai ter "até que a morte os separe" - se bem que ninguém aqui falou em casar, né?

Human After All

Conheço azamiga que ficam anos sem fazer cocô na casa do bofe. Faça me o favor, né, minha filha! Todo mundo caga, todo mundo peida, até a mãe dele (menos eu). Se ele não pode lidar com um mísero peido, ele que vá a merda!

Ele faz questão de pagar a conta

Se ele acha que mulher não tem que pagar a conta, muito provavelmente ele acha que mulher não pode sair sozinha, não pode ter amigos homens, não pode um monte de coisa. Bem provável na cabecinha dele sua única "podência" seja cuidar da casa. Sair só se for com ele.

Ele repara na sua roupa 

Amiga, se o seu piroco não for estilista, até por que se for o piroco não é seu, fuja fugidinha dele! Quem manda na sua roupa é você, e ele não tem nada a ver com isto. Mas, cuidado, é uma armadilha, Bino! O cara pode ter a desfaçatez de não falar nada no primeiro encontro, fique atenta aos demais, ou preste muita atenção em como ele se refere a outras mulheres.

Chegue no horário

Bom, esta dica não vale, por que, né? Mulher se atrasa. Se ele não consegue suportar míseros 40 minutos que você atrasou para ficar linda, ele que vá se catar.

Vista-se e maquie-se do jeito que te der na telha

Se ele não gostar, que procure outra. Ninguém merece fiscal de peruca.

Fale o que e o quanto quiser

Esta poderia estar listada lá no começo, mas a gente fez questão de separar pelo seguinte: se ele não te aguentar no primeiro encontro, vá páputaquel

Seja sincera

Se gostou do encontro, já marque o próximo, não fique neste cu doce de esperar ele te ligar. Se não gostou, o que mais tem por aí é pipiu de olha na sua ppk.



Estas são só algumas dicas! Se você tivar mais alguma, pode mandar ;)

Beijokas

12/08/2014

Aspectos religiosos dos povos pré-colombianos - recorte

Quando os europeus chegaram oficialmente na América, a partir de 1492, encontraram nativos nos mais diversos estágios de evolução cultural, que podem ser classificados como Paleolítico (viviam de caça, coleta, pesca e agricultura rudimentar, fazendo uso de ferramentas simples), Neolítico (tinham agricultura mais desenvolvida e certa organização social e econômica) e Civilização (economia avançada, claro divisão social, uso de ferramentas especializadas e ciência desenvolvida – matemática e astrologia principalmente). A despeito de serem diferentes entre si, todas elas tinham traços em comum com relação à religião (também em outros aspectos, mas que não abordaremos neste texto). O primeiro item a ser apontado, talvez por ser o mais marcante, é o fato de serem politeístas - todos cultuavam vários deuses, sempre com divindades apoiadas na natureza. Outro aspecto recorrente era o sacrifício humano, apesar de acontecerem com motivos e formas particulares em cada cultura. Por fim, o que chama atenção é cada uma delas ter seu mito da criação elaborado. Dependendo da civilização temos um deus em destaque em seu panteão. Símbolo de fertilidade, tanto vegetal quanto humana, Pachamama (Pacha: universo ou tempo; mama: mãe) era a deusa-maior dos nativos andinos, em especial da civilização Inca. Ela chama atenção já pelo nome, que tanto pode significar espaço quanto temporalidade, representando o ciclo de vivência que envolve os elementos do universo, biótico e abiótico, em que há um estado de pré-existência, um de existência, seguido por transformação ou fim. Entre os tupis-guaranis (Brasil, Paraguai, Uruguai, Argentina e outros países da América do Sul) encontramos a figura de Tupã, deus do trovão, que teria descido à Terra e criado a humanidade, com a ajuda de Jaci (lua). Entre os astecas (México), Nanahuatzin (sol) se destaca como deus de grande coragem, apesar de fraco e pobre, que teria se sacrificado espontaneamente para dar origem ao universo. Sacrifícios humanos aconteceram em diversas culturas pelo mundo, e ainda acontecem em lugares remotos, como o ritual do sati na Índia (o cônjuge se joga na pira funerária do companheiro ou companheira falecido). Os maias (México, Guatemala, Honduras, El Salvador) talvez não fossem os mais cruéis (sob um ponto de vista moderno), mas são com certeza os mais retratados na atualidade. Como possuíam um sistema de escrita refinado, eles podiam documentar processos culturais, deixando registro de muitos casos. Os sacrifícios serviam para pedir abundância na colheita, êxito na guerra, favores aos deuses, ou para celebrar vitórias bélicas. Neste último, os sacrificados eram sempre inimigos, mas noutros casos eram pessoas da própria sociedade, inclusive com voluntários. Crianças também eram sacrificadas pelos maias, geralmente morrendo com pancadas na cabeça, ou com a retirada do coração enquanto vivas, mas as razões para escolherem infantes ainda são obscuras. Entre os tupis-guaranis tinha-se o hábito de matar crianças defeituosas, ou que fossem gêmeos. Outro costume nestes grupos era o de comer a carne do inimigo – acreditava-se assim que estaria absorvendo sua coragem.  Para os astecas, sacrifícios são necessários para suprir de sangue os deuses criadores, caso contrário eles perecerão, junto ao universo. O que cada mitologia pré-colombiana tem de particular entre si é o mito da criação. Para os tupis-guaranis o homem foi criado por Tupã a partir do barro. Na cultura maia, Huracán, sob a supervisão Tepeu e Gucumatz, também teria criado o homem a partir do barro, mas ele não conseguia manter-se rígido, por isto tentaram madeira, porém resultou em obra inerte e sem vida e, por fim, escolheram o milho, material de que somos feitos. Para os incas, somos todos descendentes de Manco Capac e Mama Ocllo, irmãos casados, ele filho do sol e ela filha da lua, que foram enviados por seus país para organizar e popular a Terra, que estava em caos. Por fim, cabe observar que, a despeito do tamanho do mundo naqueles tempos, e até mesmo antes, muitos dos mitos se repetem. Podemos encontrar um deus trovão na mitologia nórdica (Thor), sacrifícios humanos entre os hebreus pré-bíblicos, seres humanos feitos de argila na crença judaico-cristão-muçulmana, a deusa mãe da fertilidade Ísis no Egito, isto só para citar alguns exemplos. 

10/28/2014

Morre o grande compositor Leite

Morreu neste domingo Leite, da dupla sertaneja Café com Leite. O artista, que vivia com ajuda de aparelhos nos últimos 16 anos, não resistiu ao quadro de infecção generalizada que atacou seu corpo na última década. Com viúvas por todo país, sua morte infelizmente não causa muita repercussão, já que foi esquecido pelas novas gerações, conhecedoras de um ou dois sucessos da dupla, no máximo.

Conheça a história de Café com Leite

A dupla foi formada em 1894, no sudeste do Brasil, e logo suas canções ditavam o modo de vida de todo o território nacional, apesar de suas composições serem de cunho regional, escritas para um pequeno círculo de admiradores. O primeiro grande sucesso foi “De gola, assim que eu vou, meu amor”, responsável pela hegemonia se comparado ao de outros artistas. Na mesma época lançaram “De cabresto e arreio pelo Brasil”, que contavam como era a trajetória do sertanejo e da população afastada dos grandes centros, onde predominavam as oligarquias. Outras músicas marcantes foram “Do império pra cá nada vai mudar”, “Estampa o selo”, “Doente não dá”, “Prudência” e “É uma pena”. Antes de se separarem pela primeira vez, em 1930, gravaram “Derruba a coluna”, composta por um macaense.
Rumores apontam que decidiram seguir carreira solo por discussões internas. Alguns colunistas da época afirmam que foi ciúmes, outros divergências no cachê, ou até que brigavam para ver quem seria segunda voz. O certo é que antes de romperem já não faziam tanto sucesso e o vanerão despontava como preferência popular. Não era a primeira vez que o sul entrava no caminho deles, a canção “Sobrinho” foi praticamente imposta no repertório dos dois, assim como “Versalhes”, de compositor paraibano.
Em carreira solo, Café conseguiu emplacar alguns sucessos, inclusive de alcance internacional, como “Se não vai pra lá vai queimar”, se mantendo ativo durante toda a carreira, com lançamentos a tempo regulares. Até hoje é lembrado por “Ouro”, “Martins & Camargo” e “Locomotiva”, todas desta época. Leite manteve um trabalho mais discreto, porém marcante e voltado ao humor, como a paródia “A constituição é nossa” (que ironizava o vanerão “Constituição”, que teve participação de Café na composição) e o hit “Acre, Roraima e Amapá”.

Reconciliação e fim

Com o fim da onda de vaneirão os dois continuaram em carreira solo por um tempo, mas todas as gravações foram fracassos de público e crítica, vendendo pouquíssimos álbuns e quase sem fazer shows. A virada veio em 1985, quando um artista maranhense gravou “Eu sou direto”, obra prima de Leite. Café resolveu se aproximar e gravaram “Meu fusca”. Na ocasião um carioca ameaçou tomar as paradas de sucesso com “Roxo”, mas não teve espaço. Logo depois estourou “É real!”, com arranjos de samba e um ar de pós-moderno inédito no Brasil. Apesar dos arranjos, é uma composição típica de Café, que não abre mão dos preciosismos mesmo quando resolve inovar.
Fizeram shows por todo Brasil, sucesso total, mas logo depois Leite adoeceu, e Café resolveu ficar ao lado do companheiro, talvez para compensar os anos em que estiveram brigados. Como um estava sem forças para gravar, Leite tentava ajudar na composição, mas as letras eram todas um fracasso, como a releitura de “Serra serra serrador”. Foi aí que o país conheceu a ciranda e o coco, ritmos nordestinos que contaminaram todos os brasileiros.

Antes de morrer, Leite escreveu “Bonito e cheiroso”, "Leite em pó" e "Aeroporto" - sendo as duas últimas um completo fracasso, enquanto Café gravava “Sem água na pia” e “São Pedro”, ambas com arranjos do companheiro.

10/20/2014

Eleições

Minha memória mais antiga de racionalização sobre política vem do início dos anos 1990, logo após o impeachment de Collor, eu estava com 12 anos e foi um ano marcante pra mim - meu pai morrera quatro meses antes do episódio e eu abandonara os estudos na mesma época. Lembro de estar sentado à mesa com um familiar mais velho e escutar o seguinte argumento, acompanhado de um balançar de cabeça melancólico: "votei no Collor por que era melhor do que votar no Lula". Não entendi muito bem a lógica, mas achei que era por que não tinha experiência com assunto.

Depois disso fui acompanhando e me parecia que urbanizar era bom, afinal era o que Maluf fazia, todo mundo afirmava que ele era do tipo "rouba mas faz" e seguia sendo eleito e construindo. Nutro uma admiração por sua retórica, mas para por aí. também reconheço que algumas de suas obras foram bem úteis. e é isto. Achei abominável ouvir ele dizer, em rede nacional, "quer estuprar, estupra, mas não mata". Parece que colhemos os frutos até hoje.

No governo do estado minha lembrança tem espaço para Quércia, mas só de ouvir dizer, sempre estudei em colégio público estadual e acabava ouvindo falar dele. Se me tirar por base, parece que foi uma boa gestão. Tempos depois, eu já fora da escola, foi instituída a progressão continuada. Um erro que não consigo nem avaliar. O único estímulo que tínhamos para estudar era justamente o medo de repetir de ano - eu em especial, já que minha mãe era muito brava, e isto foi tirado da gente. Uma argumentação construtivista justificaria, mas nenhuma preparação foi feita.

Minha experiência posterior como educador me mostrou a armadilha armada, e pude presenciar alunos competindo para ver quem passava com menor nota, ou quem conseguia fazer desavença maior com o professor. Este modelo foi implantado em São Paulo, mesmo estado que hoje brada ser o mais culto, que negros, nordestinos, pobres não sabem votar. Podemos presenciar uma púbere paulista bradar que não há liberdade de expressão e que ela é cerceada em seus direitos, isto em um veículo de alcance nacional. É no mínimo paradoxal, porém lamento que ela não conseguirá entender. Este mesmo grupo de intelectuais apela para fé quando culpa São Pedro pela falta d'água, mas está é outra história.

Não sou eleitor do PSDB, nunca fui, mas aprovei o primeiro mandato de FHC. Mantenho admiração por sua gestão, assim como pela de Itamar Franco, que teve peito para fazer a URV, mesmo diante da incredulidade geral (sim, o PT não foi o único a se mostrar contra). Meu primeiro voto para presidência foi no ano de 1998, quando FHC disputou reeleição e votei nele. Me arrependo sistematicamente deste voto, como nunca me arrependi de nenhum outro. A coisa que mais me marca neste período é a explosão de uma plataforma da Petrobrás, a P-36. Orçada em 350 milhões de dólares, me fez conceber a primeira teoria conspiratória: estão querendo desvalorizar a Petrobrás para vendê-la mais rápido e barato! Nunca comprovei, nem demovi, a teoria, mas sei que não sou o único a pensar nisto - à época e hoje. Relendo os arquivos da revista Veja, também noto um detalhe que me escapou: a bolsa despencava com a possibilidade de reeleição.

Em 1999 entrei com orgulho no melhor colégio público do Brasil, a ETESP. Eu era um dos mais de 5mil a disputarem 140 vagas na escola e fui aprovado. Junto com estes 140, e mais um monte de 140 de veteranos de outros anos, e de outras escolas técnicas, paramos a Avenida Paulista em pelo menos três ocasiões gritando "Educação, não se discute, privatize a D. Ruth". Eu já tinha quase vinte anos, meus veteranos mais velhos 18.

"Iniciei" minha carreira com as letras e com o jornalismo na mesma época, quando editei o Tramp Drops junto com meu amigo de pena e de bar André Gonçalves. Meu artigo mais contundente foi sobre a posse de Marta como prefeita. Mal assumira a cadeira e um apresentador de telejornal da tarde chamava ela de incompetente, já que as ruas estavam todas esburacadas. Era mês de março e eu desejava que ela estivesse ajeitando as contas do município, por isto não tapara ainda. Felizmente não me decepcionei: ela pagou títulos da União que estavam atrasados há muito tempo, colocando Sampa City em dia com o orçamento. Mesmo assim, as pessoas reclamavam.

Lula foi eleito, e com meu voto. Deu continuidade aos planos de FHC, instituiu o Fome Zero e pedia doações permanentes. Demorou a entrar na minha cabeça a razão do governo pedir doações, por que ele mesmo não se virava? Ainda não estava claro que qualquer um pode ajudar o próximo e de certa forma ele estava emulando isto. Depois veio outros programas: Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Pronatec, Prouni, Ciências sem Fronteiras, aumento do número de bolsas de pesquisa científica, PAC's etc... sim, há um nevoeiro sobre o que foi Dilma e o que foi Lula, que mal há nisto? Afinal, são doze anos de poder continuado, para que mudanças bruscas? Time que está ganhando não se mexe.

Neste nimbo eu saí de onde nasci para viver em outros lugares, conhecer novas pessoas, experimentar novos estilos. Minha ideia era uma viagem longa, mas não saí do sudeste. Mesmo assim, minha vivência foi muito rica, e conheci (não pessoalmente) César Maia, que encaixava na categoria de poder tão extenso quanto controverso, mesmo assim as pessoas votavam nele.

O tempo passou, voltei pra São Paulo, vim para Brasília, chegaram novas eleições, as redes sociais surgiram, invadiram as vidas das pessoas, dispositivos eletrônicos móveis ganharam mercado, conexão de internet, e gosto popular. Difícil é ver alguém que não tenha seu perfil online, que post, comente, compartilhe. Junto venho uma noção de tudo pode. E é exatamente onde estamos.

Simpatizantes de um partido não se furtam em achincalhar os do outro, regionalismos viram monstros encarnados em pessoas que pareciam pacíficas até então. O deboche, escárnio, agressividade, e demais comportamentos correlatos transbordam das ruas e ganham palanques, bancadas, debates. Um não se sente constrangido em maldizer a vida pregressa do outro, orientações pessoais são tranquilamente avacalhadas e condenadas ao inferno, quando menos, quando muito a pauladas e assassinatos.

Temo chegarmos a vias de fato após o termino da eleição, com um grupo vociferando contra a morte da democracia, a fraude nas urnas, e a necessidade de uma revolução armada, já que vários defendem como direito divino carregar uma arma para ser usada contra quem ameace. Temo que regionalistas cuspam todo ácido de sua língua contra aqueles que creiam com convicção sejam inferiores. Uso palavras até leves para o apocalipse que temo. Mas pode ser que tudo amanheça tranquilo, e seja festejada a democracia e a escolha da maioria. ponto final feliz.

8/05/2014

Bem vindo a BSB!

Para falar de Brasília, chamar turistas e que tais, poderíamos falar do planejamento da cidade concebida por Lúcio Costa. Em 1893 o astrônomo Luís Cruls fez diversos estudos do local e apresentou um projeto de represamento do rio Paranoá, que corre pelo Planalto Central. A ideia de Cruls era resolver o problema de baixa umidade que assola a região alagando a área que ficava coberta de água na estação chuvosa, o que não causaria impacto ambiental muito drástico. Tendo por base o projeto, em 1956 Lúcio Costa e Niemeyer começaram a desenhar o Plano Piloto, com seus setores organizados e prédios que parecem obras de arte.
Poderíamos falar que o Lago Paranoá é um dos maiores lagos artificiais do mundo, com 48Km² de extensão, profundidade máxima de 38m e quase 80Km de perímetro. Estes números significam uma usina hidroelétrica na barragem, praias artificiais lindas – como Prainha e Piscinão do lago Norte -  o Iate Club, com veleiros para todo gosto e tamanho. No lago são encontradas aves aquáticas, lontras, capivaras, e até uma espécie nativa de crocodilo, o jacaretinga – que não costuma atacar humanos. Além de velejar, mergulhar, encontrar amigos para um churrasquinho na margem, dá para ficar só admirando o lugar, meditando em um fim de tarde, de cima da ponte JK, ou na “quebra da treze”, point da galera no Lago Norte.
Intrigante sobre Brasília é a fama de que a cidade não tem esquinas. E não tem. É uma infinidade de rampas, elevados, subidas, descidas, rotatórias (“balão” por aqui) e pequenos anéis viários (apelidados “tesourinhas” pelos candangos). Para ser sincero, nem semáforo tem direito, pode-se atravessar a cidade inteira sem ter que parar em um. Intrigante mesmo, mas que ninguém fala, é que as edificações do Plano Piloto não têm muros, e muitas estão sobre os pilotis de Niemeyer. O intuito é não ferir o “direito de ir e vir” do cidadão. Este tipo de curiosidade dá tanta liberdade que é possível ver os jovens conversando e se divertindo embaixo dos prédios ou arredores.
Chama a atenção de quem chega o fato das ruas não terem nomes. “Onde você mora?” é seguido por uma careta e um “que?” quando tem resposta: SHIN QL 10, (na 13 do Lago Norte pros íntimos). A balada pode ser na 306 sul, ou 202 norte. Funciona assim: a cidade é um “avião”, o Eixão forma as asas (sul e norte) e o Eixo Monumental forma a nave, a Praça dos Três poderes é a cabine. No cruzamento dos dois eixos começa uma contagem nas direções norte e sul, de 1 a 16. No sentido leste (L na linguagem aeronáutica) e oeste (W) ficam as quadras e vias paralelas ao Eixão. No L estão as 200, 400, 600, 800, no W 100, 300, 500, 700, 900. Combinando as coordenadas temos o endereço – lembra da primeira balada? Indo para o sul, entre na sexta quadra e suba até a segunda paralela. Entendeu? Não? Só chegar, é muito fácil.
Mas falarei só uma coisa: não deixem de olhar para o patrimônio natural de BSB, o Céu!

*nota: em 2007 o arquiteto mineiro Carlos Fernando de Moura Delphim protocolou o pedido de Patrimônio Natural do Céu de Brasília no  Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).




2/12/2014

O meu 禅空 - VII

Recentemente postei um diálogo da série “Diálogo” em que as duas personagens conversavam sobre a diferença entre andar o caminho e ser o caminho. Apesar da referência ser à felicidade, a pequena metáfora pode ser utilizada em qualquer circunstância.
Os esquetes são sempre bem pequenas -uma fala de cada, o velho e o jovem, intercaladas por algum sentimento dos dois- o que abre margem para muitas interpretações. Diversos amigos já chegaram a conclusões diferentes sobe o mesmo texto, sempre positivas. Acontece claro, de um ou outro não chegar a nenhum, mas como este fala sobre “caminho” e “felicidade”, abrirei uma exceção e explicarei com mais detalhes (e por metáforas, claro, já que não é uma fórmula mágica).
Imaginemos o seguinte cenário - uma estrada longa, um templo ao fim dela, com um sábio dentro. Neste panorama, podemos chegar em muitas, mas iremos nos ater a três situações:
*Ser um viajante que trilhará o caminho em direção ao templo, a fim de fazer as perguntas certas ao sábio e atingir a felicidade. A estrada pode ser tortuosa, íngreme, esburacada, cheia de curvas e bifurcações, pode ser direta, lisa, plana e agradável. A viagem pode ser emocionante, perigosa, calma, monótona. Pode ser até tudo isto misturado e você chegar ao fim, ou desistir no meio. Pode atingir a felicidade, ou se frustrar. Não depende de ninguém, além de si próprio.
*Ao trilhar a estrada, construída segundo sua própria existência, também existe a possibilidade de chegar ao templo e não conseguir entrar, ou, se entrar ficar perdido na hora da pergunta, se sentir intimidado pela sabedoria do mestre. Desesperador, não?
Nas duas simulações o objetivo ficou dependente de fatores externos, e foi projetada em alguma coisa distante: o mestre. São armadilhas que não asseguram êxito, estão fora de seu campo de controle.
A terceira é a mais simples para definir, todavia, muito difícil de internalizar, pois infere em se tornar tudo que está ao redor e pode levar a felicidade. O caminho chega ao templo sempre, independente de alguém trilhá-lo ou não. O caminho não se afeta quando alguém diz “está difícil, está muito fácil”. Ele simplesmente está lá, sendo o que nasceu para. E no fim terá o sábio passeando ao seu redor, em regozijo e contemplação, fazendo do caminho o motivo de sua alegria.

Sendo o caminho, não importa o quanto você se desvie, a meta está do outro lado, mas como você é um em toda a extensão, a meta já está, o que resta é ajustar a si próprio, para ser reto, harmônico, direto, e bonito, sem nunca se perder ou desistir.

7/05/2013

este medicamento não deve ser usado em suspeita de dengue

ps2alguém já parou e refletiu sobre o significado destas palavras? elas querem dizer “os sintomas que você está tratando podem não ser gripe ou resfriado, podem ser dengue. se você mascarar estas reações, com certeza irá morrer”.

estas palavras podem ser perfeitamente adaptadas ao que ocorreu ontem no leblon e nas repercussões: pessoas reclamando que a polícia dispersou os manifestantes com bombas de gás e balas de borracha, repórteres foram agredidos, alegações de que a mídia manipula e é (junto com a força policial) fascista.

não vou deslegitimar o protesto, que isto fique bem claro, farei só umas considerações, a conclusão deixo a cargo do discernimento de cada um, afinal, não quero ser rotulado de mídia manipuladora, ou reaça (como eu detesto esta palavra, junto com ad hominem, falácia e afins, recursos assaz típicos de péssimos retóricos).

a primeira reclamação é sobre a brutalidade policial: não admito violência de qualquer natureza, e pra mim é uma agressão ouvir isto como se fosse a grande mazela do estado. me condoo aos que tiveram os olhos irritados, o corpo alvejado e marcado pelas balas de borracha, aos que tomaram golpes de cassetete e foram empurrados com escudo pelo choque. gostaria de lembrar-lhes que na favela (tem uma bem ali, subindo a niemeyer) os moradores são dispersados com rajadas de fuzil para o alto, com pescoções, com hélices de helicópteros sobre suas cabeças. eu gostaria que vocês atacassem a doença, não só o sintoma que chegou a vocês.

meu segundo ponto é a repulsa contra jornalistas. em qualquer tempo, em qualquer cultura, em qualquer lugar, a regra é clara: não ataque o mensageiro. não ataque o mensageiro. não ataque o mensageiro. três vezes pra ser verdadeiro. não ataque o mensageiro. a quarta pra casar lógica com realidade. eu sempre critiquei a mídia, e o que eu fiz? comecei escrevendo meus fanzines, mostrando onde estavam os erros, cresci, fui conhecer visões e depois me formei em jornalismo. se a mídia é manipuladora, seja humilde e inteligente para saber discernir o que é fato e o que é falso. não existe notícia ficcional, e se você não consegue entender isto a culpa não é da mídia, nem do meio e nem da educação, é única e exclusivamente sua.

acusam a comunicação e o estado de fascista, mas praticam a censura, como chama isto? é interessante notar que ao passo que os bem nascidos reclamam da imprensa a primeira coisa que os menos favorecidos gritam quando a polícia chega esculachando é “vou chamar o jornal! vou ligar pra globo! vou ligar pra record!”. muitas vezes nós (sim, eu também! morei vinte anos na cohab e sei bem como é!) não temos quem nos defenda, por que vós estais muito ocupados com vossos dramas. não recrimino, nem discrimino, cada um sabe onde dói mais.

isto vale para aquele rapaz que virou a cabeça da rainha na guilhotina, que é julgado por ser funcionário de uma emissora, por passar férias em cancun. oras, se vocês podem viajar à disney com a grana do pai, por que o cara não pode ir ao caribe com a grana que ele batalhou?

reitero que não quero deslegitimar o protesto, pelo contrário – fico muito feliz que estejam lutando pelo que acreditam estar certo e ser o melhor para o próximo, este é bem meu ponto: não olhem apenas para o próprio umbigo, olhem ao redor, pese o que será de bem comum.

temo por meus amigos que estavam no leblon ontem, mas terei imensa vergonha se algum deles atacou a imprensa. a mesma vergonha que sinto quando compartilham capas falsas da veja.

caso acha suspeita de dengue, vá à doença, não em apenas um sintoma. sob risco de perder a vida.