7/16/2007

Análise das Previsões de "Blade Runner"


Índice


1.Introdução

2. Previsões Tecnológicas

2.1. Replicants

2.2. Telefonia

2.3. Carros Voadores

3. Conclusão

4. Notas

5. Fontes



1. Introdução

Blade Runner (Scott, Ridley, USA – 1982) nos mostra uma sociedade do futuro, 2019, com muitas referências aos 1980, como o visual punk e o excesso de luz néon e led’s. Mas o que nós é pertinente observar nessa obra não é sua estética e sim as “previsões” tecnológicas feitas pelo roteirista e o diretor.
O desejo de criar faz parte da nossa história, desde a roda até a último modelo de foguete espacial, mas até bem pouco tempo atrás o homem situava a maioria de suas idéias na ficção, dando liberdade a sua mente para colocar na ponta da pena as coisas mais absurdas. Entretanto, essas coisas foram deixando de ser absurdas e passaram a ser tangível na medida em que o homem foi desenvolvendo a tecnologia na direção de seus sonhos.

Muito tempo foi necessário para que a máquina de voar de Da Vinci fosse possível. Já de Julio Verne e seu módulo lunar ao homem pisar na lua foi um tempo menor. Menos tempo ainda se passou desde que Orwell escreveu 1984, onde o Grande Irmão tinha uma tela “que tudo ouvia e via” e também podia concentrar toda informação sobre todos os cidadãos, até chegarmos a Internet.

Da mesma forma, há previsões no filme que estão distantes (mas nem tanto), como carros voadores, e outras já ultrapassadas, como o videofone. Além destas duas, marcaremos em primeiro lugar e com mais ênfase os Replicants, a personagem principal do thriller.


2. As Previsões Tecnológicas

2.1. Replicants


A principal previsão do filme é a própria essência da história: os Replicants, que são andróides perfeitos, capazes de aprender e manifestar sentimentos e dor, capacidade chamada de “AI” (sigla em inglês pra inteligência artificial).

Baseado no livro “Do Androids Dream of Electric Sheep?” (Dick, Philip K. – 1968) e com referências a outros autores, como Isaac Asimov¹ e William Blake ², Scott prega que em um futuro não tão distante o homem criará - enfim³ - andróides. Junto com isso virá um problema: a partir do momento que os andróides começam a pensar, descobrem que são explorados (o vocábulo robô deriva do tcheco robota – “trabalho escravo”, que define bem a vontade do homem de desenvolver uma máquina que o substitua no trabalho pesado). Causando uma rebelião e uma chacina.

Inovador no filme é o acréscimo de memória aos replicants, solução dada pelo inventor Tirell (Turkel) para o problema da possível revolta dos robôs e para a criação da “Inteligência Artificial” (23’).

Pensados inicialmente como máquinas, daí o nome autômatos, os robôs seriam como eletrodomésticos, que seguem os comandos humanos sem pensar e isso é reafirmado por Asimov nos seus livros quando cria as três leis da robótica (termo cunhado também por esse autor). Porém, com o desenvolvimento da informática, nasce à perspectiva de fazer máquinas que executem mais do que simples movimentos de engrenagens.

Quando Tirell decide acrescentar “memória” nos replicants ele fala sobre passado, história pessoal, mas pensado nos dias atuais pode-se falar em “armazenar dados”: para chegarmos a AI basta ter suficiente dados armazenados e um processador rápido o bastante para cruzar as informações de forma que a gerar novas perspectivas a partir de impressões primárias, a exemplo do sistema humano4.

Como fundamento para a afirmação de que memória e processador são as bases da AI e de o quanto estamos próximos dela basta vermos o Deep Blue. Criado em 1996 pela IBM, empresa de tecnologia de desenvolvimento de hardwares e softwares, o Deep Blue, com seus 250 co-processadores, foi desenvolvido para jogar xadrez, atividade que exige raciocínio lógico, posto que são milhões de possibilidades para atacar e se defender. Quando os técnicos finalizaram o computador, máximo que se esperava era fazer um oponente um pouco melhor para os seres humanos, o que se mostrou acertado em um primeiro momento, quando o computador perdeu de 4 x 2 para Kasparov, campeão mundial de xadrez.

A surpresa veio na revanche do ano seguinte. Depois de passar por algumas atualizações a máquina da IBM venceu Kasparov, que ficou chocado com a capacidade da máquina de aprender os movimentos de ataque e defesa do xadrez e ainda declarou que foi o último homem a ganhar de uma máquina no xadrez.

Em 2003 Kasparov enfrentou o X3D Fritz em uma partida virtual, onde ele usava óculos especiais que projetavam a tela em sua frente. Esse embate terminou empatado, só que mais uma vez ele ficou impressionado com a capacidade da máquina de armazenar estratégias e responder rapidamente.

No que tange à aparência dos replicants há polímeros que simulam o brilho, a cor e a textura da pele humana, como o mostrado pelo professor Hiroshi Ishiguro5, que fez um “clone” de si mesmo e o apresentou em uma feira de tecnologia. Além de seu clone, o professor mostrou ao público a humanóide Q1expo, uma réplica perfeita de mulher.


2.2. Telefonia

Com 50 “de filme Deckard faz uma ligação a Rachael (Sean Young) usando um videofone público, muito similar as tradicionais cabines norte-americanas e com 1º 28” ele faz outra ligação usando videofone, só que desta vez em um modelo dentro do carro.

Hoje em dia podemos dizer que estes modelos estão “ultrapassados”, principalmente no que tange a tecnologia fixa. Através da Internet podemos fazer ligações de videoconferência via IP6 desde meados de 1997, quando surgem as webcams e softwares como o Netmeeting7, o que torna isso um lugar comum atualmente. O quê configura uma “previsão” é essa espécie de “videocelular” que ele tem no carro.

O primeiro celular foi lançado no dia 16 de Outubro de 1956 e não era necessariamente um sistema portátil de comunicação: conhecido como “Sistema Automático de Telefonia Móvel” ou MTA na sigla em inglês, ele pesava 40 quilos, portanto ele só podia ser usado de forma estacionária em um carro ou barco.

A popularização dos modelos usados em carros se deu a partir de 1977, quando a Motorola lançou seu “Dyna-Tac” em Chicago, cinco anos antes do lançamento do filme.

No mundo real, celulares com câmera surgiram em 2000, quando a Sharp lançou seu J-SH04. O mote dessa inovação foi convergir duas tecnologias (celular e câmera digitar) para um único aparelho, facilitando a vida do consumidor e tornando o aparelho mais desejável do ponto de vista comercial. No fundo isso era apenas um golpe comercial, visto que somente há pouco tempo às câmeras dos aparelhos passaram a ter uma definição maior, permitindo sacar fotos com uma qualidade aceitável.

O próximo passo da industria de comunicação foi dado em direção ao aparelho usado por Decker em março de 2003, quando a Motorola apresentou em Hanover8 (Alemanha) os modelos A830 e A835, que são equipados com Internet de alta-velocidade, câmera de boa definição, sistema de mp3 e captação de áudio, tudo voltado para videoconferência.

No Japão e na Coréia9, sempre pioneiros nesta categoria, a videoconferência por celular é ponto pacifico, como mostrado recentemente no filme Babel, onde surdos-mudos conversam pelo aparelho.

2.3. Carros Voadores

Os carros voadores são mostrados durante todo o filme, convivendo com os modelos tradicionais em muitos lugares e tendo acesso exclusivo a outros.

Como disse Henry Ford: “Uma combinação de avião e carro está chegando, você pode rir disso, mas virá!”. Por mais inverossímil que possa parecer, essa previsão também já é uma realidade e estava disponível no ultimo catálogo de natal de uma grande loja norte-americana de departamentos por US$ 3,5 milhões.

O Skycar, como é chamado, é fabricado pela Moller e tem uma autonomia de 30 quilômetros por litro, o mesmo que um carro econômico, e voa a 560 quilômetros por hora, sendo, portanto, mais rápido que um bólido de Fórmula 1.

Para poder dirigir o veiculo é preciso uma autorização especial do governo norte-americano, conseguida através da Traffic in Arms Regulations e da Federal Aviation Administration.

Israel também está desenvolvendo um modelo de carro voador, destinado a resgates urbanos. Chamado de X-Hawk foi projetado por Rafi Yoeli e já consegue voar a uma altura de cerca um metro de altura. A proposta do pesquisador é que o produto esteja no mercado até 2010. Para atingir essa meta ele conta com a ajuda da fabricante Textron Inc.'s Bell Helicopters.

3. Conclusão

O homem prova ao longo de sua história que “A imaginação é mais importante que o conhecimento” (Albert Einstein).

Quase tudo que foi concebido para ficção pela mente humana se tornou realidade de alguma forma. A lista de sonhadores e idealistas tenderá ao infinito caso alguém tente catalogar todos os nomes.

Atualmente o homem sonha com a AI, a única previsão que não se concretizou completamente e a que sempre nos exerceu mais fascínio e medo.

Com essa análise, no entanto chegamos à conclusão de que o homem atingirá mais esse intento. A pergunta agora não é mais “se” ou “quando”, a pergunta é: quais serão as conseqüências éticas e sociais desta invenção?, que seguirá “será que haverá uma briga entre homens e maquinas ou será uma coexistência pacifica?”.

Só o tempo trará as respostas, nos restando apenas o campo das previsões.

4. Notas

¹ Asimov escreveu as três leis da robótica, que são “1ª lei: um robô não pode fazer mal a um ser humano e nem, por omissão, permitir que algum mal lhe aconteça, 2ª lei: um robô deve obedecer às ordens dos seres humanos, exceto quando estas contrariarem a primeira lei, 3ª lei: um robô deve proteger a sua integridade física, desde que com isto não contrarie as duas primeiras leis”. Há uma alusão a elas logo no começo do filme quando Deckard (Ford), que supostamente também é um replicante, diz que “não gosta de matar, a não ser que seja pela sua própria sobrevivência” (sic). Isso pode ser uma referência cruzada das três leis e uma quarta, a “lei zero”, também criada por Asimov, mas depois refutada pelo autor, pois se antes havia um dilema ético, ele foi acentuado por essa lei. A lei zero é a seguinte: “um robô não pode fazer mal à humanidade e nem, por omissão, permitir que ela sofra algum mal”.

² William Blake é citado por Roy Batty (Rutger Hauer) em 28’08’’ quando declama um trecho de seu America: A Prophesy: “Fiery the angels fell, deep thunder roared around their shores burning with the fires of Orc ” (Impetuosamente os anjos caíram, quando o trovão rugiu em torno de suas costas, queimando-os com o fogo dos Orcs).

³ A palavra enfim é empregada em destaque para afirmar que o sonho humano de criar uma máquina a sua imagem e semelhança é mais antigo do que se imagina. Como exemplo pode ser citado Jacques Vaucanson, criador em 1738 de “O Flautista”, que com um elaborado sistema de engrenagens e fole tocava 12 músicas com uma flauta. A obra causou muito alvoroço, tanto que algumas pessoas criam haver um homem escondido dentro do “armário de maquinas”. O “Pato” foi apresentado no ano seguinte, com mais de 400 peças e com as habilidades de bater as asas, digerir grãos e evacuar.

4 O Homem nasce com aproximadamente 30 por cento de suas conexões neuronais formadas, diferente dos outros animais que nascem com aproximadamente 70. Isso talvez seja a fonte de nossa capacidade de raciocinar, já que há muito espaço para aprender e pouco instinto formado.

5 Professor de Sistemas Mecânicos Adaptados da Universidade de Osaka, Hiroshi Ishiguro afirma que em breve estaremos tão acostumados com essas maquinas que não conseguiremos viver sem elas, como o celular ou a Internet. Na realidade, as palavras e a voz de Ishiguro foram emitidas através da sua réplica robotizada, à qual chamou Geminoid, um clone de silicone do seu criador. Hiroshi Ishiguro, com perto de quarenta anos, não teme envelhecer, tendo à frente o seu retrato mecânico. "Acostumamo-nos, da mesma forma que os meus filhos se acostumaram no dia em que levei o Geminoid para casa; demoraram várias horas até lhe falar e a princípio estavam assustados, mas rapidamente se comportaram como se fosse eu próprio", confessa exultante.

(in http://dn.sapo.pt/2007/05/26/dngente/o_sonho_criar_inteligencia.html).

6 IP – A comunicação entre computadores é feita através do uso de padrões, ou seja, uma espécie de "idioma" que permite que todas as máquinas se entendam. Em outras palavras, é necessário fazer uso de um protocolo que indique como os computadores devem se comunicar. No caso do IP, o protocolo aplicado é o TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol). Existem outros, mas o TCP/IP é o mais conhecido, além de ser o protocolo usado na Internet. (in: http://www.infowester.com/internetprotocol.php).

7 O NetMeeting não foi o primeiro e nem existiu só durante um período de tempo. O quê o torna importante aqui é sua popularidade, já que era distribuído gratuitamente com o Sistema Operacional da Microsoft, o Windows 95.

8 Além do aparelho da Morola, foi lançado na feira um modelo da Samsung de pulso que aceita comandos de voz, uma espécie de relógio James Bond (outro campeão de previsões), e o NGage da Nokia que permite jogar on-line e escutar música em qualquer lugar.

9 A videoconferência também já esta disponível para usuários destes países: Hong Hong, Coréia, Malásia, Filipinas, Cingapura, Taiwan, Austrália, Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Dinamarca, Espanha, França, Grã-Bretanha, Grécia, Holanda, Hungria, Itália, Luxemburgo, Noruega, Polônia, Portugal, Romênia, Suécia, Suíça e Israel.

5. Fontes:

Todos os sites foram consultados entre os dias 20 e 25 de Junho de 2007, mesmo os que apresentam datas anteriores a essa.

http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI1446168-EI4799,00.html

http://www.moller.com/

http://tecnologia.uol.com.br/produtos/ultnot/2007/03/13/ult2880u326.jhtm

http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/1550622.stm

http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u12474.shtml

http://dn.sapo.pt/2007/05/26/dngente/o_sonho_criar_inteligencia.html

http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI1443441-EI4799,00.html

http://viagem.hsw.uol.com.br/carro-voador.htm

http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI687738-EI4799,00.html

http://www.philipkdick.com/works_novels_androids.html

http://wsu.edu/~brians/science_fiction/bladerunner.html

http://www.imdb.com/title/tt0083658/quotes

http://www.imdb.com/title/tt0083658/

http://www.ideiasmutantes.com.br/archives/2004/08/eu_roba_a_a_pro_1.html

http://www.unicap.br/Chico/Robotica1/sld001.htm até ...../sld0010.htm

http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=976

http://www.swarthmore.edu/Humanities/pschmid1/essays/pynchon/vaucanson.html

http://eee.uci.edu/clients/bjbecker/NatureandArtifice/lecture13.html

http://www.cucoclock.com/perso.htm

http://eee.uci.edu/clients/bjbecker/NatureandArtifice/week5d.html

http://www.automates-anciens.com/versao_%20portuguesa/caixas-automatas-musica/automatas-caixas-musica.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário