12/18/2012

segue o diálogo

Ao passarem por uma pequena cidade, o jovem notou dois homens se desentendendo por um motivo qualquer. Por mais que gritassem, não chegavam a um acordo. Para o aprendiz tratava-se de algo grave, mas o velho aparentemente não dava a menor importância. Depois de caminharem ao centro do vilarejo, se abastecerem com provisões e encontrarem um lugar para acampar, começaram a conversar:

-Mestre, como podemos ganhar uma discussão?

-Tu estás a falar sobre os dois citadinos que avistamos mais cedo? – perguntou o velho, enquanto preparava algo no fogo improvisado.

-Sim, por mais que se esgoelassem, não pareciam chegar a um acordo. –respondeu, admirado, pois pensara que o Mestre não havia notado o desentendimento- Deve ter algum jeito de ganhar uma discussão.

-Se fores titular desinteligência discussão, digo-te que não há quem saia ganhando. Todavia cheguem a um remate, ambos perdem.

-Como é possível? – o garoto estava cada vez mais confuso.

-No desenlace quem tomar prejuízo guardará rancor em seu coração, e quem sair em crida vantagem, perderá um possível amigo, ou a oportunidade de engrandecimento através da gentileza ao próximo. – o jantar estava quase pronto.

-E qual seria a outra forma de discussão? – ele deveria preparar os pratos, mas tinha medo de perder a explicação. Tratou de se apressar, apesar do zelo aprendido com o velho.

-Discutir em seu sentido etimológico quer dizer debater, conversar ao redor de um assunto. Caso seja esse o momento, chamemos assim, todas as partes saem venturosas, porquanto se sabendo manter uma linha de humildade e raciocínio belo os envolvidos aproveitarão a chance de aprendizado.

Era uma refeição simples, que comeram em silêncio enquanto o jovem aprendiz digeria os novos aprendizados.

12/05/2012

algumas (poucas) palavras sobre o feminismo

feminismoa ideia de feminismo surgiu em meados do século XIX reivindicando direitos femininos, e não visava (como não visa) suplantar nenhuma questão masculina, apenas colocar mulheres em pé de igualdade.foi se transformando em quase duzentos anos de existência, devido à conquistas e à própria mutação do cenário social.

suas primeiras lutas davam conta do direito ao voto, livre circulação por todos lugares, e -por fim- direitos trabalhistas justos e igualitários. desnecessário dizer que o voto e a participação esportiva (como exemplo de acesso à diferentes ambientes) foram plenamente atingidos, apesar de algumas comunidades tradicionalistas ou em certo sentido opressoras (seja por religião ou costume) se mostrarem resistentes e imporem condições às cidadãs.

com relação ao trabalho, esta é uma luta moderna, e a “emancipação” que ouvimos falar geralmente trata da mulher de classe média, já que as classes menos abastadas sempre tiveram a figura da doméstica e da lavadeira –para nos restringirmos nestas duas personagens invisíveis. dentro deste parâmetro, a mulher ainda ganha em média 70% menos que o homem, apesar de ter atingido uma escolaridade média relativamente maior. possivelmente nossas heroínas anônimas que sustentam os lares mais humildes “puxam” esta média para baixo.

uma vitória, que não é necessariamente fonte do feminismo, apesar de alardeada por todos os cantos como, é a lei maria da penha. aplaudida pela comunidade mundial, o que antes era exclusivamente voltado a violência doméstica contra a mulher, hoje pode ser lida como defesa também de homens e crianças que sofrem pressões físicas ou psicológicas, prova de que o movimento trata realmente de igualdade.

há muita confusão e dúvida sobre o que é feminismo de fato, e onde acaba uma coisa igualitária e começa outra extremista. não vou me prender a isso, pois não é a que me proponho, porém, vou rebater algumas coisas que são ditas por ai de forma bem equivocada:

*elas querem igualdade, mas se aposentam cinco anos antes. – sempre achei este argumento uma bobagem e é tão simples rebate-lo: amigos, nós devemos lutar para diminuir nosso tempo de trabalho/contribuição, não aumentar o delas;

*elas não querem servir o exército. – olha, nem eu quis e quase ninguém que eu conheço quer, a gente deveria pedir nossa “desobrigação”, não a obrigação delas.

uma coisa interessante no feminismo moderno é agregar outros movimentos e o respeito e cordialidade mútuos, principalmente o lgbt*. o próprio termo citado é mostra: gay a princípio se desdobraria a homossexuais masculinos e femininos, mas foi sub-dividido em lésbicas e colocado antes na sigla. o |t| também originou a luta feminista trans(sexual), ajustadas à “cis” (pessoa em que sexo/gênero/sentimento interno e subjetivo estão “condizentes” ou “alinhados”). outra causa pleiteada por muitas feministas ao redor do mundo (e no brasil) é o direito paterno de uma licença maior, pelo menos quatro meses, quando nasce o bebê.

claro, nem tudo são flores, existem alguns temas que geram controvérsia, como prostituição e pornografia. aborto era pauta unânime na luta feminista, a mulher poder regular o próprio corpo, todavia já existem militantes “pró-vida” (contra o aborto), apesar de serem em quantidade mínima. algumas outras questões não são ponto pacífico, da mesma forma, mas não entrei em detalhes, não tenho a pretensão de esmiuçar celeumas.

reiterando, o feminismo não pretende caçar nenhum direito masculino, não é uma guerra declarada aos homens, não é uma coisa antiquada e nem buscada por pessoas chatas. trata-se apenas de pedir igualdade entre os gêneros.

ps: este não é um texto definitivo, não é livre de erros, e nem pretende encerrar uma verdade absoluta. tendo em mente estas considerações, ele será uma exceção, passando por revisões e atualizações, privilégio que nenhum outro escrito meu jamais teve.