3/30/2012

Suspiro

Nunca foi religioso, porém a Cruz sempre o fascinou. Talvez o ícone do sofrimento.
Sofrimento. Já não sentia mais nenhum, há muito tempo. O suor ainda escorria frio pela testa. Apertou o objeto talhado em madeira mas forte contra o corpo.
Fazia alguns meses que pensava em si no passado. Mesmo em coisa prosaica e diária, como comer ou evacuar.
Estranho se acostumar com a morte próxima. Mais estranho ainda saber que ela finalmente chegara. Olhou para o lado, não enxergou nada.
Desde muito estava só. Seus amigos, seus amores, sua família. Abandonou-os.
Sentimental não, bastante sensível. Sua delicadeza em lidar com o mundo sempre exótica. Tentou à exaustão. Desistiu e se retirou, veio a calma.
Olhou para o outro lado. Sob o catre alguns sapatos. Para vê-los deveria acender a luz. Preguiça.
Estava bem próximo agora. Seus dedos sangravam e a pele do peito estava marcada pelo símbolo. 'Como será?' - pensou e riu. No derradeiro instante vislumbrar o futuro. Entendeu como uma predição. Acreditava em sinais. Rindo ainda, focalizou o teto escuro, fechou os olhos.

3/02/2012

amo amar

amo, quantos me for permitido amar
amo quem meu coração escolher amar
amo sem conjunção carnal para amar
amo o ato ingênuo e retrógado amar