11/16/2009

Uma noite alucinante

Ontem posso dizer que rolou a noite mais peculiar da minha vida no Rio de Janeiro, e olha que eu moro aqui tem seis anos! Vou seguir a ordem cronológica pra mostrar como ela foi esquisita.

Assim que eu sai do trabalho, tocou meu celular, com a Pri me perguntando o que eu ia fazer. Sugeri a gente colar no Empório só pra se encontrar e de lá seguir para um pé sujo que tem na mesma rua, duas quadras depois. Ela disse que não rolava colar no Empório porque tinha uma mulher lá que queria arrumar quizomba com ela. Até ai tranquilo, ficamos conversando no boteco e o Mark, parceiro pra tudo, ligou dizendo que ia colar lá. Conversamos um tempão e quando era umas duas horas da madruga a gente resolveu sair fora, mas antes ligamos pra um chapa e ele disse que ia pra fosfobosque, que não ia dá pra ir lá com a gente. Levamos a Pri até em casa, que é pertinho dali e resolvemos ir até a fosfo caminhando, o que não era tão pertinho assim.

Ai é que começa a parada. Quem me conhece pessoalmente sabe o perigo que eu represento, uma verdadeira ameaça: um nerds de óculos, alto, magrelo e tranquilão… o Mark então, mais magrelo, mais baixo, mais branquelo e com alargador, um perfeito cadeieiro… Pois é… de repente ouço um barulho de carro diminuindo e quando olho de canto de olho, vejo que é uma viatura com dois policiais, um já descendo, com arma em punho e carro ainda em movimento… pra facilitar o entendimento novamente, daqui pra diante vai ser tipo roteiro, depois volto ao normal:

p1 – AE AE AE AE!!! (descendo da viatura apontando uma arma pela nossas costas)

g – Ae o quê!? (gritando de volta, fingindo não saber se tratar de um policial)

p1 – QUE QUÊ VOCÊ FALOU? VOCÊ ACHA QUE TÁ FALANDO COM QUEM? (exaltado, chegando bem perto com a arma pra frente)

entra em cena p2, um verdadeiro piadista

p2 – encostem na parede, vocês já viram nos filmes, sabem como é (em tom de stand up comedy, e começa a revistar g, assim que ele encosta)

g – no bolso esquerdo tem meu celular e no direito minha carteira, com os documentos (colaborando, pra aliviar a tensão inicial do grito)

p2 – carteira, celular (apalpando e arremedando g)

p1 – vocês combinaram de colocar a carteira e o celular do mesmo lado? (revistando mark)

m – isso não é carteira, é meu celular, o outro é o cigarro (falando pela primeira vez desde então, refeito da surpresa)

p2 – esse celular é uma arma, olha o tamanho disso! (sacaneando mark)

m – é quase um computador senhor (?)

p2 – podem ir (dando espaço pra gente)

g – valeu (já indo)

m – boa noite (seguindo g)

p2 – podem ir quer dizer que vocês podem virar de frente e relaxar, mas ficam ainda (em tom de troça)

p2 – vocês usam drogas? (bem pertinho de g)

g – não (indiferente)

m – não (indiferente)

p2 – mas são contras né? (sinceramente, eu não entendi que tom ele emprego nisso, se era uma armadilha, que porra era…)

g – também não, cada um faz o que quer (ainda indiferente)

p2 – mesmo com todo sangue que rola? (aqui era uma armadilha, com certeza!)

g – sou a favor da livre conduta (muito indiferente)

p1 – você é homossexual então?

g – também não (indiferente e natural)

p2 – deixa ele falar, não pressiona ele (cortando uma pergunta de p1 e meio que rindo)

p2 – segura esses dois reais, segura esses dois também, o que é isso? número de conta de banco? isso é suspeito! que que tem no outro bolso, outro papelzinho? um telefone? é de mulher? não deixa eu ver não que eu sou perigoso! (tirando item por item do bolso de g e fazendo piadinhas)

p2 – cheio de dólar da sua carteira (abrindo a carteira de g)

g- lembrança da minha namorada americana (respondendo, tranquilo)

p2 – pô, mas só tem nota de um? eu gosto é de nota de cem! (um piadista nato)

p1 – você é artista? (falando com mark, ao mesmo tempo)

m – não

p1 – é artista sim!

m – não sou não…

p1 – é sim que eu sei!

m – ah, eu cuspo fogo, faço flea, mas não sou artista não!

p2 – você bebeu? (sempre falando com g)

g – sim (natural, sem se alterar)

p1 – vou ser sincero, vocês sabem como é ruim trabalhar aqui, e na zona norte é pior, mas o povo daqui é o que mais reclama e menos colabora!, vocês conhecem a zona norte? não grita lá não que vai ser problema pra vocês.

A partir dai rolou um sermão, umas bobagens de desculpas de ambas as partes e os policiais foram bem maneiros até, não tenho do que reclamar, a não ser o fato de eu não ter uma aparência criminosa.

Depois da geral (ou dura aqui no Rio) a gente continuou andando. chegando lá, fomos tomar uma coca no china do lado da foscobox. Tinha um cartaz anunciando coca em garrafa por um real, junto com um salgado era dois e cinqüenta, mas não tinha a tal garrafa, só lata, que era dois. Depois de pagar, chegou um carinha e pediu a promoção e o china cobrou os R$2,50. Nisso eu falei “então eu dou mais cinqüenta centavos e tenho o salgado” e fui separar as moedas. Quando se ligou no erro, o china foi cobrar o cara e disse que com a lata era R$3,50, claro que eu não quis, peguei as moedas e ralei, dai o china começa a gritar que a gente não pagou a coca e fica lá xingando a gente de caloteiro!

Pra entrar foi uma odisséia, mas deixa pra lá (teve até um michezinho que o mark fez com uma menininha pra poder entrar, hauhauhauah).

No fim da festa, o chapa estava bêbado, dando idéia na garota do caixa, e como já era cinco e trinta da matina, a galera estava fechando a casa. Um segurança chegou e deu mó porradão no balcão, me assustando. Pedi pro cara não fazer isso e ele foi lá e fez outra vez. Perguntei se ele estava maluco, porque fez isso, se eu pedi pra não fazer? ele veio pra cima de mim e eu parti pra cima dele e ele “sácódiquê?”, cheio de ginga e malandragem, mandei “ae, se tu é favelado é problema seu irmão, não tenho medo de você não, bota a mão em mim que a gente vai sair trocando aqui”, um bando de seguranças intervieram e pediram pra gente se retirar da parada, pra fechar a sequência de ouro.

Nesse meio tempo, antes da expulsão, o Mark ganhou um kit de pôquer, com baralho, ficha, toalha, a parada toda, pegou a Door, eu fiquei mega bêbado, ou seja, a noite foi um sucesso!!!

11/13/2009

Curta, muito!

Aconteceu mais um Curta GiG na noite da última quinta-feira. A iniciativa visa dar espaço para que jovens, ou nem tanto, cineastas mostrem seus trabalhos. A mostra é competitiva e conta com cédulas de votação distribuídas na entrada da casa.

15160_174674383710_830893710_2737400_3105168_nAgora que eu já dei esse lead quadradão (lead é a abertura da reportagem, uma coisa chatíssima que insistem em ensinar por ai), vamos ao que interessa: eu cheguei atrasado, confesso, por isso não vi o primeiro filme (a lista completa da sessão tá no link arriba), mas Marcela Moura gentilmente me emprestou o DVD pra eu ver. No segundo filme, sobre Ferreira Gullar, fiquei extasiado com os planos e com o valor de documento do filme, além da boa atuação do ator. No final tinha uma narração muito bacana, que foi involuntariamente interrompida pela Marcelinha (se me permite a intimidade), mas a moça se redimiu.

Quando começou o terceiro filme, a relação entre os planos (primeiro e segundo), a câmera estática, a cenografia, fotografia, e tudo quanto elemento, mesmo pequenas sutilezas como um aquário vazio com um gato ao lado, me chocaram e me fizeram apaixonar pelo filme. Tenho o costume de ler os créditos finais, e dei de cara com um nome conhecido na direção de arte “Malu Tostes”! Malu foi uma das primeiras pessoas que conheci aqui no Rio, engraçadíssima, e adorei ver sem saber que ela tinha parte naquilo, me deu um olhar mais sincero. A diretora, Fernanda, era só mais uma Fernanda talentosa, até meu chapa chegar e falar que Fernanda, era “A” Fernanda que a gente conhece. Eu não sabia o sobrenome da minha amiga… mas se já curtia o trabalho dela antes, agora gosto mais ainda! (será que ela topa fazer uma coisa com moi? tô cheio de idéias na minha pequena cabecinha)

A mostra estava escolhida a dedo, mas senti falta da projeção em duas telas, uma ao lado da outra, que rolou na edição anterior. Também tinha muita gente nova (que ótimo, sinal de que MM tá fazendo um trabalho supimpa!), que deve ter ouvido sobre a badalação, mas esqueceu que era um “cineminha”. Ficavam andando pra lá e pra cá, desfilando, falando alto, buscando coleguinhas, um inferno de má-educação. Teve até um bonitão, cheio dos balocobacos e salamalencos (lenço, barba, cabelo longo, calça cargo, camisa estampada, tudo que existe ele estava usando) que foi colocar os pés numa mesinha de centro e acabou quebrando uma ruma de vidros…

Roberto, o responsável pelo GiG, fica correndo pra lá e pra cá, o tempo todo, quando surgiu um boato sobre apagão então, o homem entrou em polvorosa. Mas é tanta gente que quer falar, comentar, ele não tem nem escolha. Mesma coisa vale pro DOOR (nem sei porque chamam assim…). Fabiano é a finesse em pessoa, e super interessado.

A surpresa da noite (pra mim) ficou por conta da minha conterrânea, que finalmente falou comigo. A Dona é linda e um primor de organização, mas tem aquele jeito paulista que as vezes nem a gente entende.

Felizmente não acabou a luz, e, pra variar, encerrei minha noite no Tex-Mex favorito, Rota 66.

ps: assim que eu arrumar umas fotos, coloco aqui ;)