7/21/2009

Bueiro

trechos do livro Bueiro

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Eu sempre tenho um livro na mão, me amarro em ler. Queria que todo mundo lesse. Chato pra caralho andar de ônibus sem ler. Leva só meia hora pra chegar, mas já dá pra ler umas vinte páginas. Tô lendo Entrevista com o Vampiro, que a coroa que eu to pegando me emprestou. Porra, a mulher tem 38 anos, vinte e três a mais que eu, e é a dona da ótica onde eu fiz meus óculos. Eles me dão uma cara de intelectual, perfeita pra enganar na hora de pedir dinheiro no ponto de ônibus. Vou lá no flipper, só pra variar. Sou um dos melhores jogadores.

“Oh o Rato ai! Firmeza Rato?”. O Jorge é muito figura. “Se liga Rato, tô comendo agora!”. Sempre a mesma parada quando chega alguém diferente aqui. Comprei cinco fichas mas nem paguei, só pago depois, no fim do dia, com a féria. Tem uns cinco ou seis caras jogando e tenho que esperar. Fora o cara que o Jorge disse que tava comendo, o resto é tudo igual. Tudo filho-da-puta e vagabundo. Metade trabalha, metade estuda e a outra metade é casada. Mas a gente se trata de filho-da-puta e vagabundo. Esse cara novo tem um sotaque esquisito, deve ser de outro lugar. Como ele é novo, ele fica quieto, mas faz cara de mau, sempre assim. Daqui a pouco é um vagabundo filho-da-puta.

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