7/19/2009

Bueiro

trechos do livro Bueiro

2281822033_e0c0796bf6Merda, o lado esquerdo da minha cara está adormecido outra vez. É a segunda vez que isso acontece essa semana, será que devo me preocupar? Do meu quarto eu ouço os gritos na cozinha, dois andares lá embaixo. Não deve ter coisa pior do que duas mulheres histéricas se engalfinhando. Tá ai uma palavra engraçada, engalfinhar. Fora minha avó e em livros da escola, nunca ouvi ninguém falar isso. Não sei onde coloquei meus tênis. Na verdade nem sei como cheguei em casa. Meu quarto tá uma bagunça, mas pelo menos eu estou sozinho, não tem nenhuma garota desconhecida comigo. Duas horas, meio tarde pra levantar, mas mesmo assim não interam oito horas de sono que uma vida regrada teve ter, como fala minha mãe. Regrada, ela deve ter visto esta palavra na televisão e começou a repetir. Não que ela fosse burra, nem nada disso, mas é que é uma droga de uma palavra que ninguém fala na vida real.

Calcei meus tênis e coloquei uma camiseta, já que dormi com a mesma calça suja que tô usando tem duas semanas. Vou descer a escada na esperança de não ser visto, mas deve ser fácil, já que as duas ainda estão trocando carícias uma na cara da outra. Todo dia é a mesma merda, as duas brigando sem motivo nenhum, cinco minutos depois tão rindo, como se nada estivesse acontecido. Chego no segundo andar sem grandes novidades, ninguém me ouviu ainda, vou esperar pra ter certeza. Enquanto espero, será que consigo achar algum dinheiro largado por ai, pelo menos pra pegar o ônibus? Se bem que eu já sei qual vai ser o destino da grana, já que vai ser bem ruim de pagar busão. Por baixo da roleta, ai vou eu!

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