8/02/2012

O Início do Diálogo

Não se notava nada, além de uma paisagem morta, muitos quilômetros ao redor. Mesmo com o intenso movimento, o que percebia-se eram autômatos a vagarem aleatoriamente. Cada uma dessas criaturas ruminava sua própria necessidade em fazer eles não sabiam bem o que, apenas o sentimento de cumprir algo e ser congratulado por isso.

Se ao acaso olhássemos atentamente veríamos um ser destoante, parado, admirando tal organizado caos que o circulava. Há muito desistira de pertencer à balburdia, não se ajustava. Não conversava, o que prejudicava ainda mais seu entendimento, mas simples observação parecia lhe bastar. Tinha a alma desprovida de ambições. Passava dias a fio sem nada fazer além de se arrastar por entre os autômatos. Esbarrava quando em qual em um ou outro, por acidente ou intenção provocativa, todavia esperando e pensando em reações. Lar. Quando refletira sobre isso pela última vez? Se imaginarmos pertencer, equilíbrio, compartilhamento, nunca tivera um. Encontrou a rua há muito tempo.

Um dia, distraído, tropeçou em uma pessoa que estava caminhado lentamente. De um jeito estranho, não conseguiu ver a pessoa como ela realmente se apresentava, não saberia descrever seus traços, suas roupas. A única coisa que saltava aos olhos era a velhice, mas de um jeito que nunca vira antes. Era uma velhice sábia, experiente, de quem viveu a aprender, sem outro propósito que não a própria vida. Impossível precisar quanto tempo ficara encarando o ente, mas tinha consciência de que o seguiria por muito tempo.

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