12/18/2012

segue o diálogo

Ao passarem por uma pequena cidade, o jovem notou dois homens se desentendendo por um motivo qualquer. Por mais que gritassem, não chegavam a um acordo. Para o aprendiz tratava-se de algo grave, mas o velho aparentemente não dava a menor importância. Depois de caminharem ao centro do vilarejo, se abastecerem com provisões e encontrarem um lugar para acampar, começaram a conversar:

-Mestre, como podemos ganhar uma discussão?

-Tu estás a falar sobre os dois citadinos que avistamos mais cedo? – perguntou o velho, enquanto preparava algo no fogo improvisado.

-Sim, por mais que se esgoelassem, não pareciam chegar a um acordo. –respondeu, admirado, pois pensara que o Mestre não havia notado o desentendimento- Deve ter algum jeito de ganhar uma discussão.

-Se fores titular desinteligência discussão, digo-te que não há quem saia ganhando. Todavia cheguem a um remate, ambos perdem.

-Como é possível? – o garoto estava cada vez mais confuso.

-No desenlace quem tomar prejuízo guardará rancor em seu coração, e quem sair em crida vantagem, perderá um possível amigo, ou a oportunidade de engrandecimento através da gentileza ao próximo. – o jantar estava quase pronto.

-E qual seria a outra forma de discussão? – ele deveria preparar os pratos, mas tinha medo de perder a explicação. Tratou de se apressar, apesar do zelo aprendido com o velho.

-Discutir em seu sentido etimológico quer dizer debater, conversar ao redor de um assunto. Caso seja esse o momento, chamemos assim, todas as partes saem venturosas, porquanto se sabendo manter uma linha de humildade e raciocínio belo os envolvidos aproveitarão a chance de aprendizado.

Era uma refeição simples, que comeram em silêncio enquanto o jovem aprendiz digeria os novos aprendizados.

12/05/2012

algumas (poucas) palavras sobre o feminismo

feminismoa ideia de feminismo surgiu em meados do século XIX reivindicando direitos femininos, e não visava (como não visa) suplantar nenhuma questão masculina, apenas colocar mulheres em pé de igualdade.foi se transformando em quase duzentos anos de existência, devido à conquistas e à própria mutação do cenário social.

suas primeiras lutas davam conta do direito ao voto, livre circulação por todos lugares, e -por fim- direitos trabalhistas justos e igualitários. desnecessário dizer que o voto e a participação esportiva (como exemplo de acesso à diferentes ambientes) foram plenamente atingidos, apesar de algumas comunidades tradicionalistas ou em certo sentido opressoras (seja por religião ou costume) se mostrarem resistentes e imporem condições às cidadãs.

com relação ao trabalho, esta é uma luta moderna, e a “emancipação” que ouvimos falar geralmente trata da mulher de classe média, já que as classes menos abastadas sempre tiveram a figura da doméstica e da lavadeira –para nos restringirmos nestas duas personagens invisíveis. dentro deste parâmetro, a mulher ainda ganha em média 70% menos que o homem, apesar de ter atingido uma escolaridade média relativamente maior. possivelmente nossas heroínas anônimas que sustentam os lares mais humildes “puxam” esta média para baixo.

uma vitória, que não é necessariamente fonte do feminismo, apesar de alardeada por todos os cantos como, é a lei maria da penha. aplaudida pela comunidade mundial, o que antes era exclusivamente voltado a violência doméstica contra a mulher, hoje pode ser lida como defesa também de homens e crianças que sofrem pressões físicas ou psicológicas, prova de que o movimento trata realmente de igualdade.

há muita confusão e dúvida sobre o que é feminismo de fato, e onde acaba uma coisa igualitária e começa outra extremista. não vou me prender a isso, pois não é a que me proponho, porém, vou rebater algumas coisas que são ditas por ai de forma bem equivocada:

*elas querem igualdade, mas se aposentam cinco anos antes. – sempre achei este argumento uma bobagem e é tão simples rebate-lo: amigos, nós devemos lutar para diminuir nosso tempo de trabalho/contribuição, não aumentar o delas;

*elas não querem servir o exército. – olha, nem eu quis e quase ninguém que eu conheço quer, a gente deveria pedir nossa “desobrigação”, não a obrigação delas.

uma coisa interessante no feminismo moderno é agregar outros movimentos e o respeito e cordialidade mútuos, principalmente o lgbt*. o próprio termo citado é mostra: gay a princípio se desdobraria a homossexuais masculinos e femininos, mas foi sub-dividido em lésbicas e colocado antes na sigla. o |t| também originou a luta feminista trans(sexual), ajustadas à “cis” (pessoa em que sexo/gênero/sentimento interno e subjetivo estão “condizentes” ou “alinhados”). outra causa pleiteada por muitas feministas ao redor do mundo (e no brasil) é o direito paterno de uma licença maior, pelo menos quatro meses, quando nasce o bebê.

claro, nem tudo são flores, existem alguns temas que geram controvérsia, como prostituição e pornografia. aborto era pauta unânime na luta feminista, a mulher poder regular o próprio corpo, todavia já existem militantes “pró-vida” (contra o aborto), apesar de serem em quantidade mínima. algumas outras questões não são ponto pacífico, da mesma forma, mas não entrei em detalhes, não tenho a pretensão de esmiuçar celeumas.

reiterando, o feminismo não pretende caçar nenhum direito masculino, não é uma guerra declarada aos homens, não é uma coisa antiquada e nem buscada por pessoas chatas. trata-se apenas de pedir igualdade entre os gêneros.

ps: este não é um texto definitivo, não é livre de erros, e nem pretende encerrar uma verdade absoluta. tendo em mente estas considerações, ele será uma exceção, passando por revisões e atualizações, privilégio que nenhum outro escrito meu jamais teve.

11/29/2012

O meu 禅空–VI

zenSempre fui um aluno rebelde, nunca fazia meus trabalhos individuais por pura preguiça, e nos trabalhos em grupo eu lia o assunto e ditava o que a galera ia escrever, na apresentação sempre eu que palestrava. Minhas notas, claro, nunca eram as melhores, mas eram azuis por que nas provas oscilava entre 8 e 10. Eu leio muito desde jovem, e sempre armazenei muita informação, na maioria das vezes eu já tinha lido o conteúdo da aula e ficava perturbando.

Do alto da minha arrogância juvenil eu achava que a escola não teria nada para me acrescentar, devido à minha facilidade e meu gosto para leitura, então parei de estudar aos 12 anos, na sétima série. Por esta mesma época, duas professoras me ensinaram algumas coisas que levo para vida:

*critiquei um assunto que eu não dominava, e desculpei minha ignorância com a falta de afinidade. Minha professora (de português) disse "nunca critique alguma coisa que você não conheça, estude antes de falar, pra não falar bobagem";

*outra professora (de ciências) em uma situação me chamou de drogado e pervertido, pois conhecia sobre reprodução e psicotrópicos mais que ela. A frase foi "claro que você sabe mais que eu, você vive neste meio". Em outra oportunidade, ela escreveu errado na lousa e eu corrigi na boa. Ela fez questão de chamar o professor de português e o diretor (que era de letras) só pra constatar que estava errada: eles liam a sentença, corrigiam, descobriam que tinha sido escrito por ela e desconversavam por coleguismo. Fui mandado pra diretoria, onde o diretor pediu pra não falar pra ninguém, mas eu estava certo.

Voltei à escola com 17 anos, fiz a sétima e a oitava (no mesmo colégio) e prestei Liceu, Etesp, Federal e Derville. Fui aprovado em todas e escolhi a Etesp.

Logo no primeiro (e único) ano tive problemas com alguns professores e com a direção, todavia, vou citar um caso em particular – um professor (de geografia) brigou comigo no fim de uma aula e me chamou de vagabundo, pois eu não copiava nada. Respondi que copiava sim, quando ele perguntou onde apontei pra minha cabeça e comecei a recitar a aula dele. Diante disto, deu-me as costas alegando que eu não tinha argumentos – fui pra diretoria quando contestei “eu repito a aula todinha pro senhor, de cabeça e palavra por palavra, o senhor me dá as costas, e eu que não tenho argumento?”.

Abandonei essa escola, fiz um supletivo, viajei um tempo, me graduei em jornalismo (no Rio de Janeiro), voltei a São Paulo e me pós-graduei em Estudos Literários e Teorias da Tradução (esta com intenção de um respaldo ao meu inglês autodidata - até que foi bom, mas não como respaldo).

Atualmente trabalho como escritor, jornalista e professor, e em todas estas atividades, assim como em todos os aspectos da minha vida, não esqueço aqueles ensinamentos: nunca falar sobre o que não conheço, nunca desdenhar o conhecimento alheio, e sempre recuar e revisar minha atitude diante de um erro - fazendo dele uma oportunidade de aprender e evoluir. Não apenas isso, tento também passar esta sabedoria simples a todos que estão ao meu redor.

10/25/2012

quæ sera tamen

Flying-Sky-Lanternhora de quebrar a corrente sair correr fugir

que me prende não sei onde estou precipício celeste

seio alimenta seduz dependência  convicção amor

patinar em fino lago de gelo romper queimar me afogar

cavalgo em campinas da mente onde projeto posso chegar

liberdade é imaterial  não se atem a grilhões em pernas e braços

alma  coração em uníssono soltas jogadas podem voar

profundezas do inferno imensidão do paraíso em qualquer

10/11/2012

criptograma

cada vez que te via eu tremia, ainda assim eu insistia em tentar te entender

minhas mãos as vezes buscavam o teclado sozinhas, indo de um lado ao outro buscando palavras

lamentava não podermos conversar abertamente, antes de poder me aproximar

 

então tudo estava certo, gastávamos horas sobre música a conversar

uma sobre a outra, sempre com uma pequena história, tentando te impressionar

até que, veio um mal-entendido a tona, ouro virou lixo e eu não pude me explicar

9/20/2012

cabelos dourados, boca grande, sorriso largo

mateusparte o anjo magro e sem carne

parte o anjo sofrido da doença que mata

parte o anjo com a cabeça atacada

parte o anjo que viveu em aparelhos

parte o anjo que morreu aos quinze

8/28/2012

O Afinador da Gávea

Love of Music - red rose-Desafinado, de novo!

-Ãhn?

-O piano, desafinado de novo! Mas não faz nem um mês que mandamos afinar!

-Ãhn?

-O piano! Você não acabou de pedir pra eu tocar pra você? – reclamou o marido, sem paciência com a mulher.

-Uê, você não vai tocar?

-Como, se ele está desafinado? Chama aquele afinador outra vez.

-Quem?

-O afinador, Marta! Chama ele de novo! Não dá pra eu tocar o piano pra você todo fim de semana se ele não estiver afinado! Na verdade eu acho que tenho que comprar um novo, todo mês ele desafina agora.

-Pode deixar, amor, vou ligar pra ele amanhã cedo!

Calça jeans surrada - de muitos anos, ele nem sabe quando foi que comprou, nem mesmo se o buraco na perna era desses modelos pra frente (quem ainda fala pra frente?) ou se era de velha mesmo -, camisa aberta até a metade do peito por desleixo, escapulário com nossa senhora de um lado e as fotos do pai e da mãe do outro e os sapatos amarfanhados (eram espadriles, mas quem sabe isso esses dias?), chave de afinador, farrapo de flanela, alicate, diapasão, isolador de cordas, uma ou outra tecla reserva – arranhadas –, e um cigarro no canto da boca.

-Pronto.

Piano tinindo de afinado, dona da casa arfando.

-Sara, o piano, desafinou de novo! As crianças estão brincando com ele? Chama o afinador!

-Elizabeth, fala com a empregada pra tomar cuidado com o piano! Chama o afinador!

-Jéssica, já chamou o afinador?

-Ana Clara, por quê o afinador não veio hoje, será que ele anda muito ocupado?

Olavo, Bruno, Sérgio, Marcelo, Augusto e todos os outros maridos não tinham ideia do nome ou do número, só o conheciam como o afinador.

8/06/2012

anagrama do escritor carente

eu? lê eu? lê?

O meu 禅空 - II

zen2[17]Uma grande professora pediu que lêssemos “A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen” (Herrigel, Eugen), Conhecendo ela do jeito que a conheci sei que ela tentava mudar nossas vidas. Por meio dela também me apaixonei por Salinger. Ela chegou a passar uma entrevista com a última mulher do demi-deus (mas isso é outro momento).

 

Há uma passagem muito interessante no livro: durante o treino com flecha, o aprendiz descobre uma maneira de acertar o alvo na maioria das vezes – realmente foram poucos erros durante uma longa sessão. Ficou surpreso quando o Mestre pediu que ele se retirasse da academia e nunca mais voltasse. De acordo com o mestre, ele estava tomando o caminho mais curto, quando ele deveria SER o caminho.

Em nossa existência diária procuramos sempre ser a flecha, buscando alvos a esmo, quando não a esmo, indicados por falácias que queremos acreditar ser verdade: projetamos a namorada perfeita, o emprego ideal, o salário maior. Se buscarmos SER o alvo, qualquer das metas que atinjamos será a meta desejada, pois nos reencontraremos em um círculo, nunca deixaremos de SER.

Diz que ocidental pensa muito na vida, tenta racionalizar cada ação. Diz. Diz também que não se pode descrever física quântica usando mandarim. Bem, isso é verdade. Também me contaram que francês é o idioma oficial de muitas organizações internacionais pelo simples fato de que não há controvérsia, interpretação e duplo-sentido, a língua é franca. Outra coisa interessante é que deficientes auditivos –surdos- não têm noção do que significa uma pergunta, a estrutura não pode ser representada pela linguagem de sinais. Para inquirir alguma coisa é preciso criar uma situação, uma historinha, e deixar que eles completem com a informação desejada.

Tanto rodeio só para falar uma coisa: nosso cérebro e nossa linguagem possuem forças e fraquezas incompreensíveis e não descritíveis com palavras específicas, o que pode parecer um paradoxo. Tão forte é o poder da mente que um mero clichê pode fazer cair por terra qualquer credibilidade. O uso das palavras corretas pode mudar sua vida por completo.

E a palavra que sugiro é VAZIO, esqueça suas metas pelo simples motivo de que você é a meta, sempre. Deixe a vida seguir seu fluxo, deixe que “os fatos sejam fatos naturalmente, sem que sejam forjados para acontecer”  (chico science). Não significa largar de mão. O caminho é conhecimento, e só se tem conhecimento quando se interioriza o conhecimento, caso contrário o que se tem é uma frágil memória que se esvanecerá como a fumaça de um incenso. A chama deve ser alimentada diariamente, como o sol clareia a senda.

8/03/2012

Coloque aqui o título que achar mais conveniente.

-Conseguimos.

-Conseguimos?

-Conseguimos.

-Ótimo! Quantos faltam?

-Cervantes está quase acabado.

-Não tivemos problemas por ele ser estrangeiro?

-Pelo contrário, foi mais fácil até, adulteramos todas as traduções.

-Machado de Assis?

-Um grupo de feministas nos ajudou com ele. Capitu denegrindo a imagem da mulher estava há tempos atravessada na garganta delas.

-Onde mais podemos contar com o apoio delas?

-Elas prometeram Nelson Rodrigues e Jorge Amado também. Elas ficaram bem colaborativas depois que proibimos a Simone de Bevouir.

-E a queer literature?

-Tem um grupo glbt nessa com a gente.

-Glbt?

-Sim, sim. Eles acham que Caio Fernando Abreu é muito cafona, então trocaram apoio pela cabeça dele.

-Nossa, que maravilha! Ainda temos o apoio dos ncn’s?

-Claro! Eles nunca esqueceram o que fizemos por eles no Monteiro Lobato.

-Algum grupo homofóbico está nos ajudando?

-O apoio tá difícil. Toda vez que nos reunimos com o pessoal feminista, eles partem pro ataque um do outro…

-Briga?

-Antes fosse, mas essa animosidade é só nos holofotes. Eles partem é pra baixaria, com o perdão da palavra…

-Não precisa se desculpar, essa nossa formalidade é só pras câmeras também.

-Sim, senhor.

-E a censura?

-O pessoal da imprensa tá bem colaborativo, como o senhor disse.

-Ah! Não falei! Isso é bom pra eles, chama a atenção!

-Foi isso que eles disseram. Só ficaram triste com a caça as bruxas que fizemos com os comerciais de cerveja. A bebida é que paga o salário dos jornalistas.

-Mas tivemos que fazer isso. Na próxima vez lembrem a eles que em troca da Paris Hilton a gente convenceu a Sandy a fazer uma declaração polêmica!

-Verdade.

-Música?

-Desculpe, mas o senhor acha mesmo isso necessário?

-O que você quer dizer?

-A gente eliminou as bandas punks, compramos o Ultraje a Rigor, o Titãs e a Syang e quase todas as de rock nacional, mas por que não compramos as internacionais?

-Porque o povo não fala inglês, não faz diferença.

-Ah… E esses roquinhos babinha?

-Faz parte da campanha de alienação.

-Ok. Faremos alguma coisa com o funk?

-Não podemos, não agora. Temos que conservar o carnaval também. Panis et Circenses, não se esqueça. Mas podem fazer um ou outro movimento falando qualquer bobagem sobre apologia ao crime, sexo, drogas. Esse engodo sempre funciona.

-E a Tv?

-Não sabemos o que fazer ainda, afinal já atacamos os comerciais. Talvez continuar com a mesma sistemática do funk, o que você acha?

-Perfeito senhor! E política?

-Não se preocupe com isso. Todo mundo fala, mas ninguém lembra em quem votou. Nem debate eles assistem.

-Sim, senhor.

-Como anda o patrulhamento? O Mark tá ajudando?

-Sim! Creio que foi uma das melhores coisas que planejamos! Funciona mais que o Encontro Anual dos Intolerantes! Cada um dos ignorantes assume uma postura que formulamos e passam a fiscalizar uns aos outros!

-Uhn… Muito bom, mas temos que tomar cuidado com extremos! extremismo nunca é bom entre nós, deixe isso para os proletários.

-Sim sim! 1984 é uma obra prima!

-Pode ler nosso exemplar quando quiser, a igreja nos deu uma cópia.

-Mais alguma coisa senhor?

-Por hora é só. Muito obrigado,

-Às ordens.

8/02/2012

O Início do Diálogo

Não se notava nada, além de uma paisagem morta, muitos quilômetros ao redor. Mesmo com o intenso movimento, o que percebia-se eram autômatos a vagarem aleatoriamente. Cada uma dessas criaturas ruminava sua própria necessidade em fazer eles não sabiam bem o que, apenas o sentimento de cumprir algo e ser congratulado por isso.

Se ao acaso olhássemos atentamente veríamos um ser destoante, parado, admirando tal organizado caos que o circulava. Há muito desistira de pertencer à balburdia, não se ajustava. Não conversava, o que prejudicava ainda mais seu entendimento, mas simples observação parecia lhe bastar. Tinha a alma desprovida de ambições. Passava dias a fio sem nada fazer além de se arrastar por entre os autômatos. Esbarrava quando em qual em um ou outro, por acidente ou intenção provocativa, todavia esperando e pensando em reações. Lar. Quando refletira sobre isso pela última vez? Se imaginarmos pertencer, equilíbrio, compartilhamento, nunca tivera um. Encontrou a rua há muito tempo.

Um dia, distraído, tropeçou em uma pessoa que estava caminhado lentamente. De um jeito estranho, não conseguiu ver a pessoa como ela realmente se apresentava, não saberia descrever seus traços, suas roupas. A única coisa que saltava aos olhos era a velhice, mas de um jeito que nunca vira antes. Era uma velhice sábia, experiente, de quem viveu a aprender, sem outro propósito que não a própria vida. Impossível precisar quanto tempo ficara encarando o ente, mas tinha consciência de que o seguiria por muito tempo.

7/13/2012

pequena história romântica do escritor

pobre escritor, sem desenvoltura para se expressar

pobre escritor, sem articulação para falar

podre escritor, sem talento para atuar

pobre escritor, sem inspiração para pintar

pobre escritor, sem swing para bailar

pobre escritor, sem olhos para fotografar

pobre escritor, sem mãos para esculpir

podre escritor, com um coração que insiste em amar

7/09/2012

non ducor duco

32São Paulo é a maior unidade federativa do Brasil em todos os aspectos, com única exceção ao territorial. Me orgulho de ter nascido em um estado guerreiro, trabalhador, com um passado cheio de glória e um presente com riquezas e tecnologia. Somos responsáveis por uma parcela significativa do PIB nacional, por boa parte do desenvolvimento da união e destino de muitos estudantes e trabalhadores que não se importam em enfrentar o trânsito, a poluição e o clima instável de Sampa.

Pessoas dos quatro cantos e de todas as cinco regiões migram para São Paulo em busca de desenvolvimento pessoal, dinheiro, lazer, cultura. Somos o estado que nunca para abrigando a cidade que nunca dorme. Somos formados por bolivianos, japoneses, angolanos, árabes, italianos, maranhenses, baianos, mineiros, goianos, gaúchos. Todos que se misturam a todos e com todos moldando as qualidades da terra da garoa, do café, da indústria e da vida noturna.

Hoje celebramos 80 anos da maior luta, dentre tantas, de que fomos palco. Em quatro frentes pelo estado e em seu coração, São Paulo lutou pela reforma constitucionalista e pelo direito de ter um interventor que fosse de nossa região para nossa região. Apesar do descontentamento, a batalha principal visava a aprovação da Constituição Nacional, e não o separatismo.

Como todo clichê se enquadra em algum canto, no entanto nem tudo são flores. Me envergonho dos que pregam a segregação, a eugenia, o separatismo, que chamam àqueles que cá vêm para produzir de “essa gente feia”. Fico vexado em ser comparado aos que em nome de meu estado querem expulsar os que não esperam nada além de uma melhor vida em um lugar que enxergam como seu oásis libertador. Sempre tenho prazer em estar com quem identifica São Paulo como terra da oportunidade, enquanto sinto desgosto daqueles que chamam São Paulo “de minha” sem terem a menor noção da tamanha bobagem que vomitam. São Paulo não é de ninguém, São Paulo é de todos que por aqui passam, vivem, se divertem, estudam, trabalham, visitam, amam!

Parabéns São Paulo pelos 80 anos da Revolução Constitucionalista!

Que nos seja permitido mais 80 décadas de glória!

(Para ilustrar esse texto, uma linda imagem encontrada no blog “Tudo Por São Paulo” que suporta os dizeres “Exercíto Constitucionalista” com colunas verde e amarelas, prova do teor não-separatista no movimento!)

6/21/2012

,dois,

única noite que ficamos

não sei por que demorou tanto

passamos por trucagem, pose, pictórico e outros tantos

 

a curiosidade do beijo

doce textura e maciez da pele

suave mistura, a sensação de seu corpo, junto ao meu

 

nós estamos longe agora

você no frio eu também solitário

na memória o calor, seus braços claro, esquentam meus pensamentos

6/17/2012

O meu 禅空


zen2Decidi há pouco mais de dois anos buscar o Zen. Escolhi o Zen Vazio - que consiste em limpar sua cabeça através de experiências e arte – influenciado pela história do samurai Miyamoto Musashi.

Sempre fui avesso a dogmas, rotinas e normas, valorizando em primeiro lugar meu empirismo. Por isso, a primeira coisa que resolvi fazer foi… ler! Buscar na vivência alheia elementos que poderia testar em mim. Curiosamente não consultei nenhum livro de auto-ajuda, nem mesmo best-sellers do tipo ‘tem que ler’. Se eu fizesse isso estaria me contrariando. Na verdade os que mais me influenciaram estavam lidos há muito tempo, apenas tive o trabalho de ligar os pedaços com um pouco mais de pesquisa na internet.

Regras definitivamente não são meu forte quando se trata de vida pessoal. Não que eu tenha problemas em seguir regras sociais ou em ambientes coletivos, mas na intimidade a minha conduta sempre foi pautada pelo aprendizado e a busca por um caminho diferente, mesmo que muitas vezes seja mais complicado ou desagradável. Com esse trajeto aconteceu a mesma coisa: logo eu já tinha um patch de conceitos e exercícios desenvolvidos com muita análise do ambiente, montando o meu próprio Zen Vazio.

Não tenho a menor pretensão de doutrinar alguém ou reivindicar pra mim uma cultura estabelecida há anos, apenas compartilhar o (muito) pouco que aprendi e talvez olhar no espelho do ensaio onde estou cometendo erros. Pode ser que os possíveis erros ou contradições que existam aos olhos de quem leia não se apliquem a mim, mas mesmo assim gostaria de que fossem comentados, por favor, entrem em contato. Quem se interessar e quiser me perguntar sobre o Zen proceda da mesma forma.

A primeira reação quando comento sobre o Zen é dizerem que jamais conseguiriam ser assim por que são muito estressados. O Zen não exclui pessoas com pouca paciência e muito menos tem relação com pacifismo. Ele representa equilíbrio e harmonia, portanto, se o ambiente ao seu redor está em desajuste com seu espírito você deverá providenciar balanço, que pode ser de fuga a enfrentamento, e isso vale pra qualquer situação. Depois de muita reflexão essa conclusão me parece um pouco óbvia e até palavras de um irmão me valeram de inspiração no meu conceito: “Justiça não tem nada a ver com perdão”. Se há conflito e sua atitude é pacata fica bem difícil verificar temperança. Um exercício que sempre faço é tentar analisar a situação como se eu não pertencesse, não fosse parte. Se foi causada por mim, o que outro alguém faria em meu lugar? Se um terceiro, será que eu faria o mesmo? Por que será que ele/a agiu assim? Tenho momentos de explosão, mas procuro refletir assim na maioria das vezes. Dedico um bom pedaço nessas considerações antes de optar por qualquer alternativa. Muitas vezes errei ao escolher fuga onde pedia enfrentamento, mas decidir batalhar é mais complexo – qual a medida exata da justiça? “Olho por olho, dente por dente” está registrado em um dos livros mais antigos da humanidade, mas como mensurar o quanto basta? Quanta falta me fará um olho? Será proporcional a quem eu tirar o olho? O que posso dizer é que esse exercício se torna mais dinâmico e eficiente a medida em que é praticado, como levantar peso ou fazer palavras cruzadas. Mesmo assim creio que nunca será totalmente eficaz, nem em um milhão de anos.

Deveria ser clichê a expressão ‘a viagem é mais importante que o destino’, mas não é assim. Sei qual o meu destino, o Zen, e isso é a única certeza que quero para meu futuro, entretanto , não sei quando chegarei, nem se chegarei. Minha convicção é de que cada momento ínfimo representa um cisco dessa trajetória. Aproveito cada situação, cada interação, cada vivência mínima. Não me desespero e busco conservar a serenidade em qualquer adversidade, assim como extrair beleza de tudo que me cerca. Tenho consciência de que felicidade e tristeza são faces da mesma moeda e que cabe a mim joga-la novamente se o lado visto não me agradar. Noto pessoas reclamando da vida pelos mais variados motivos e quase sempre quando faço o exercício de me colocar em seus lugares noto que são auto-algozes que se infligem sofrimento, ou que enxergam penúria onde ela está ausente. Não me iludo com a felicidade, nem tento me enganar ocultando as tristezas, é exatamente o contrário – tenho uma relação de promiscuidade com a primeira e de debate com a segunda. Sei que alegrias não vão se entregar a mim fielmente, muito menos com frequência, assim como sei que maus momentos estarão a espreita. Pensei sobre a tristeza um dia que chovia copiosamente e eu estava esperando o ônibus, todo molhado e com frio. A epifania foi a seguinte “me preocupar, ficar depressivo, irritado ou qualquer coisa assim não vai mudar o clima ou o fato de eu estar molhado, então por que eu vou me aborrecer?” – o pensamento foi tão profundo que um sorriso brotou sozinho em meu rosto e passei a interagir com as pessoas ao meu redor, que também começaram a brincar enquanto eu admirava a beleza da água correndo pela sarjeta. Quanto a alegria, um texto lido dois dias atrás serviu para desenvolver o embrião que germinava no meu inconsciente. Escrito por um grande empresário que é colunista de uma revista alternativa ele versava sobre nossa vã necessidade de celebrar como naturais meras convenções. Aniversários, promoções no trabalho, êxitos duvidosos, tudo vira comemoração, quando na verdade são consequência da vida e do esforço que devemos esperar de cada elemento no universo. Uma formiga ou uma barra de ouro não têm a menor noção de seu esforço ou valor, talvez por isso não precisem tomar prozac ou rivotril, nem se sintam desmotivadas ou não-reconhecidas (com hífen mesmo).

Arte e beleza são itens que permeiam cada polegada do meu ser. Sou atraído por elas a ponto de vê-las fumegarem de tudo. São também fonte de grande controvérsia por parte de quem me pergunta sobre o Zen. O belo e o construído pelo/para o homem são como irmãos xifópagos gerados por mães diferentes. O belo é a simetria existente entre o ser animado e inanimado junto ao que está ao redor. Pra mim parece incongruente admirar uma estátua sobre uma pedra ao mesmo tempo que se coloca desprezo na orgânica relação de um estilo musical e seus ouvintes. Também consegui desvincular o que é belo e o que é repudiado pelo homem, como o espetáculo de uma onda gigante que se torna atrocidade por causar mortes, ou o bailado natural de uma leoa e uma zebra. Na arte levo em consideração seu espaço/tempo. É cansativo e frustrante tentar enxergar beleza onde tua criação e cultura te desenham o feio. Em um simples relance é fácil verificar essa teoria, comprovar como muita gente se faz infeliz e mal ao próximo por não aceitar como arte a criação espontânea do homem. Qualquer artefato humano, ideal ou material, deve ser respeitado. E por artefato leiam música, pintura, imagem, mitos, religião, arquitetura, costume, orientação sexual. Tudo que venha de/para o homem deve ser admirado, no mínimo respeitado. Vale aqui o ditado inglês de calçar os sapatos do outro. Produza qualquer coisa e submeta a avaliação, nesse momento você crescerá como artista e como admirador.

Meditar, refletir, praticar atividade física, ler, escrever, ouvir, falar, aprender e ensinar são verbos essenciais no trajeto. Humildade não deve ser confundido com esconder seus avanços, suas qualidades. Tripudiar com certeza vai te fazer recuar muitos passos, mas sarcasmo pode ser mostra de sensibilidade, porém, como o confronto deverá ser a escolha mais cuidadosa.

Essas considerações foram escritas em uma lufada de ar, apesar de serem fruto de mais de dois anos de reflexão – sim, já pensava nelas antes de afirmar o Zen - com certeza contém falácias, mas elas podem ser verdade para mim, ou meros enganos no caminho. Reafirmo aqui meu desejo de receber algum retorno, positivo ou negativo. Se ficar interessado a ponto de se dispor a ler mais busque no meu twitter (@cordeirogustavo) dois micro-universos: ‘said the old man’ e ‘segue o diálogo’. Said… é sempre uma pequena frase em inglês, e diálogo é sempre um jovem conversando com o mestre.

6/03/2012

Major Feliciano

-Jogue sua arma e levante suas mão!

Era a segunda vez que Major Feliciano pedia. Odiava clichês, mas não resistia a esse. Mãos firmes, músculos tensos, olhar vidrado, sua equipe sabia que era o último aviso. Agachado atrás da nova baratinha, há dois minutos não piscava. Não notava seus companheiros, o desespero ao redor, a mãe que tropeçara com o filho no colo e o garoto arrebentara os dentes no meio-fio. Visualizava o cano de seu belo 38, seguia por todo o trajeto da bala até a mão que segurava a pistola do outro lado. Não conseguia prever mas imaginava quantos dedos seriam decepados. Antecipava o característico odor ferroso do sangue, os gritos apavorados de dor e incompreensão do mutilado. O estado de choque e a demora em saber que não perdera a mão, condenada a ostentar cotocos pelo resto da vida. Não tinha como saber que Major Feliciano fizera em intenção.

Não toma conhecimento do cheiro de pólvora, dos novos gritos, do estampido. Em inteligência autômata seu dedo puxou o gatilho, o cão acertou o cartucho, detona a explosão que arremeta o projétil a frente. Dançando o balé que compõe o quadro. Médio, anelar e mínimo, cortados pela metade, uma ponta de osso em cada um e nas mãos, gotículas de sangue foram salpicadas na arma, notava-se uma fina trilha na direção de cada pequeno membro, como que para ajudar a encontra-los. Uma torneira mal fechada, descia um fio vermelho radiante refletindo negro e escarlate as luzes da iluminação pública.

Novo estampido, desnecessário, ecoou. Um pedaço de miolo ficou pendurado pelo buraco. Nesse meio milésimo que o corpo se sustém sem vida no ar era possível ver através da testa do suspeito e enxergar a bala encravada na parede. Um vapor rubro se transformou em nuvem que choveu a vida pelo chão, impregnando todo o ambiente com esse odor que sentiu Major Feliciano antes dos disparos.

O corpo tombou, borbulhando sangue pelo boca. O excesso acumulado na garganta encontrava passagem pelo furo da cabeça. Sem dizer palavra, o policial levantou, demorou alguns momentos e se reconectou ao mundo.

5/30/2012

segue o diálogo

-Mas, Mestre, sempre pensei que sinceridade fosse uma boa coisa. Sermos livres para expressar o que pensamos, sem ter que mentir. – choramingou o garoto, cada vez mais confuso.

-Tu decidiste me seguir, sem ao menos me consultar. Jurou aprender com atos e palavras, nunca desobedecer ou questionar o que te digo. De repente se acha no direito de exigir justificativas sobre o que estou a ensinar-te? Donde tiraste tamanha ousadia? Crês ser maduro ou sábio o suficiente para refutar esse ou qualquer outro tópico que venha a ser apresentado? Não passas de um garoto sem experiência com a vida, teus pais mimaram por muito tempo, prendendo-te em uma redoma cor-de-rosa que contribuiu para o triste ser em que te tornaste.

Ao fim das palavras duras do Mestre caminharam em silêncio por longo tempo. O jovem se perguntava por que o ancião se mostrara tão irritado e se deveria seguir-lhe por mais tempo, ou abandonar o caminho.

-Em que pensas?

-Se deveria continuar minha caminhada.

-Por que?

-Porque me pareceu não ser de seu agrado.

-Viste por que as pessoas não podem ser completamente sinceras  ou expressar opiniões ao seu bel-prazer? Não estamos preparados para lidar com o que podemos ouvir. Mentira não é o melhor caminho, porém a verdade pode representar uma trilha negativa. Eventualmente devemos ponderar o que trará infelicidade ao coração. Quanto a sua presença, ela muito me honra. Te digo isso em pura lisura.

O rapaz calou-se até a próxima cidade.

5/27/2012

virtual love

sua presença virtual alegra meus dias. não me lembro bem quando foi a última vez que nos vimos, nós já nos vimos? seu sorriso estático é inalterável em meus pensamentos mesmo quando não estou de frente a tela.

ver seus oi, hello, holla, olá, tudo bem?, <3 e afins pular no pé da página, esperar que aquele número ao lado do balãozinho seja uma mensagem sua. torcer para que você tenha curtido, comentado, sei lá, compartilhado, durante todo o tempo é só o que faço.

nem sempre concordamos, é verdade. podemos chamar isso va, tipo virtual argument? ficamos dias (já tivemos meses) sem nos falar após esses espaços, meu coração fica oprimido, rl sofrendo as erros vr. depois, novamente seu rostinho, ou sou eu que vou falar contigo? o verso também, sempre,  versa.

um piu vez por outra deixa transparecer sua saudade, mas você teima em negar. uma noticia aqui e acolá, nem sempre feliz para ambos, mas tem algumas que não podem deixar de me alegrar.

idealizar, transferindo do brain para o cyber mas com reflexos reais em nosso <3. um dia, quem sabe, rl?

5/10/2012

confession on the dance floor

clave de solSou uma prostituta, é sério! Sou daquelas que fazem por gosto, não por que precisa, mas por que é rameira. Se o cliente me agrada, beijo na boca mesmo! Claro, não são todos - alguns eu faço só pelo exótico, pelo prazer do proibido. Pouquíssimos eu rejeito. Quando não faz direito eu falo mal, mas se fizer direitinho, bem gostosinho, deixar aquele zumbido maroto no pé do ouvido, coração, corpo e cabeça a mil… ahhhh dai eu vicio! Fico só nisso um tempão, e faço questão de dividir com os amigos e com as amigas.

Estou falando de música, é óbvio: me entrego a todos os ritmos, alguns são meus favoritos, outros minha paixão. tem aqueles que são só pra chocar mesmo. Tem ritmo que chego perto de não tolerar, dai vem um artista e subverte todo meu pensamento (como a Ivetinha e a Dani, mulheres maravilhosas que fazem eu tirar o pé do chão).

Giro a bolsinha no bom e velho rock’n’roll. Beijo Bowie, Sioux, rodo a banca nos Rolling Stones, Led Zeppelin e The Doors. Me encontro as claras e escuras com Elvis enquanto troco olhares com Johnny Cash e Dolly Parton, já que Shania Twain, Dylan e June Carter sempre me chamam pras festinhas. A galerinha nova, ou nem tanto, frequenta meu bordel assiduamente. Que o digam Linkin Park, Coal Chamber, Marylin Manso (sua piranha!) e tantos outros… até a Pity já entrou pela porta dos fundos. Gosto dos mais junkies também –Ramones, The Clash, The verve, Sex Pistols, Lama, porém um pouco de glamour é bom, mas não abuso no Kiss, George Michel, Boy Jorge, The Raptures. U2 de vez enquanto, mas nunca tocaram meus lábios… tá, eu confesso, só One vez… Trepei as pampas com a Janis também, fiz até suingue com ela e o Sergey.

Negros são um capítulo a parte: Muddy Waters, Hooker, Dizzy Giulespe, Ella, James Brown,Marvin Gay, Ray e Stewie. NWA, Peebs, Salty’n’Peppa, Beyonce, R Kelly, Kool Mo Dee, Parliament, Run DMC, Beast Boys (branquelos judeus de alma preta, tipo a Joss), Wu Tang Clan. A lista tem tudo; Rap, R&B, Jazz, Blues, Soul, Funk, Miami Base e por ai vai. Se eu vou falar todo mundo, perco de vez o respeito, de tantos que já foram!

Não é só de junkie que se faz uma lista de gente pesada, os rastas são minha paixão do momento. Durmo messalinamente com Fat Freddys Drops, Bob Marley, Katchiafire, Mad Professor. Sister Nancy é paixão antiga e recorrente. Chego a orgasmos tântricos com Reggae e Dub.

Brasileiros povoam minha alcova, com tudo que é alcunha e diversidade. Já fiquei muito de vermelho em boates azuis ouvindo nossa velha guarda sertaneja (nem cadeirante perdoei), seja de Trio Parada Dura a Genival Lacerda, que já pula pra safadeza dum rala coxa com tetozinho de reboco. Nessa zuada sem vergonha vai Mestre Lua, Mestre Ambrósio, Cordel do Fogo Encantado e um montante de me deixar arfando. Gosto do sangue quente do nordeste. Todo o Mangue Beat já se resfolegou pelo meu corpo devasso e sedento, tem exceção nenhuma! Valezca e Catra, Jaula das Gostosudas, Gorila e Preto, menor do chapa são pra chocar! Daqueles que você conhece na zona e mostra pra mãe só pra coitada ter desgosto.

Gosto de gente meiga e inocente, que fica indefesa – ou sou eu que fico? – quando ataco com meu furor uterino inesgotável. Fernanda Takai, Bjork, Céu, Marisa Monte, Arnaldo Antunes (ah seu velho Titã!!!),Smoke City, Portshead (que só finge inocência), Nancy Sinatra, e até gente que pediu respeito e ganhou paixão, né Aretha? Roberto Carlos já foi homem mau, já me levou pra Santos, bancou o amante à moda antiga, mas mesmo chamando nome santo não saía do meu quarto. Elba, Alceu e Zé também já fizeram suruba comigo. Eles e os Zecas, todos.

Muitos outros e outras já estiveram em minha intimidade, não consigo nem contar, mas se uma coisa me é certa é isso: sou daquelas vagabundas bem baixas, que faz com gosto e tesão!

5/05/2012

segue o diálogo

-Eu estou confuso, não entendo sua ideia de humildade.- lamentou o rapaz.

-Não há relação entre ser humilde e esconder nossas qualidades. Humildade consiste em reconhecer habilidades alheias e não sentir nenhum sentimento além de admiração.– explicou o Mestre.

-Alardearmos o que sabemos é arrogância.

-Ser arrogante é fazer uso egoísta do que te foi agraciado. – continuo o Mestre – É tripudiar sobre quem não recebeu o mesmo dom.

-Mas… não somos todos iguais? – balbuciou o discípulo.

-Há pouco passamos por um aleijado, na entrada do vilarejo. Desafiaria-o a uma corrida?

-Não.

-Por que não?

-Porque ele não pode caminhar como eu posso.

-Então sentes superior a ele, já que podes andar e ele não?

-Não me sinto melhor que ele…

-Reconheces que te moves com mais eficiência?

-Sim…

-Para se movimentar eres melhor, não há nenhum problema nisso, apenas um fato. Tua humildade reside em não tripudia-lo convidando para uma corrida. Vês aquele lago adiante? O que farias se eu atirasse-te no meio do lago?

-Nadaria para me salvar, além de ficar muito triste e confuso com o senhor por ter feito isso. – murmurou o garoto, assustado.

-Tu não morrerias, por que sabes nadar. Eu morreria se caísse lá, não sei nadar. Reconheço que eres melhor, entretanto, isso não é motivo para tristeza. – pacientemente exemplificou o Mestre. – Crês que eres mais sábio que eu?

-Não! – apressou-se em negar o aluno.

-Crês que sei todas as coisas entre o céu e a terra?- insistiu o Velho.

-Sim! É o homem mais sábio que conheço!

-Perderei o sentido da vida no exato momento em que pensarei tê-lo encontrado. Nisso reside também a humildade, a consciência de que se pode ser sempre melhor. – concluiu o Mestre.

4/05/2012

perfil

comida favorita?
macarronada com molho de istrogonofi

sobremesa favorita?
bolo de aliversário

doce favorito?
jeleia de damaceno

fruta favorita?
pinhão

música favorita?
as da leidi gága

festas que frequenta?
churrasco

lugares que gosta de visitar?
casa cum picina

sonho de vida:
montar um negócio

ator preferido:
istive segau

atriz favorita:
a lucinha (amiga sua pessa foi linda!)

3/30/2012

Suspiro

Nunca foi religioso, porém a Cruz sempre o fascinou. Talvez o ícone do sofrimento.
Sofrimento. Já não sentia mais nenhum, há muito tempo. O suor ainda escorria frio pela testa. Apertou o objeto talhado em madeira mas forte contra o corpo.
Fazia alguns meses que pensava em si no passado. Mesmo em coisa prosaica e diária, como comer ou evacuar.
Estranho se acostumar com a morte próxima. Mais estranho ainda saber que ela finalmente chegara. Olhou para o lado, não enxergou nada.
Desde muito estava só. Seus amigos, seus amores, sua família. Abandonou-os.
Sentimental não, bastante sensível. Sua delicadeza em lidar com o mundo sempre exótica. Tentou à exaustão. Desistiu e se retirou, veio a calma.
Olhou para o outro lado. Sob o catre alguns sapatos. Para vê-los deveria acender a luz. Preguiça.
Estava bem próximo agora. Seus dedos sangravam e a pele do peito estava marcada pelo símbolo. 'Como será?' - pensou e riu. No derradeiro instante vislumbrar o futuro. Entendeu como uma predição. Acreditava em sinais. Rindo ainda, focalizou o teto escuro, fechou os olhos.

3/02/2012

amo amar

amo, quantos me for permitido amar
amo quem meu coração escolher amar
amo sem conjunção carnal para amar
amo o ato ingênuo e retrógado amar

2/25/2012

mario de andrade aos 64

vivo pedaços do que sou aos dezessete.
resolveu cuidar. agora está cuidando. já cuidou o bastante.
herói cafajeste.
o gigante comeu.
você vai me alimentar?

1/15/2012

pra mim não serve

Sempre me interessei por pessoas diferentes. Interpretem a última palavra como adjetivo, mas é também um verbo.
Meu primeiro amor foi uma estrábica. Vesga mesmo, com os olhinhos tortinhos. Eu com nove, ela onze. Eu ficava horas sob sua janela conversando, aprendendo, me alimentando da sua extraordinária pessoa.
Aos onze anos passei a frequentar fliperamas. Sempre me disseram que tinha muito drogado, ladrões, maus elementos. A última parte não é tão verdade assim.
Passei a ouvir e curtir rap, música até então estranha ao meu círculo. Muitos anos depois virou moda, hoje ouço quase tudo, mas muito de mim veio de lá.
Me interessam surdos, mudos, anões, deficientes físicos e mentais, tipo aleijados, paraplégicos e afins (palavras que devem ser tão feias que nem constam no dicionário do celular onde escrevo esse texto), deslocados sociais. Também me fascinam os que fazem uso do verbo diferenciar: homosexuais, tatuados, pessoas com modificações corporais, tímidos, recatados (sim, esses dois escolhem), periguetes, fanfarrões, putas, travestis etc.
Ouço funk, 'se amarro', acho uma forma de expressão riquissima. Assim como lutas. Somos humanos, precisamos de nossa parte primal.
Muitas vezes ouvi "nossa, um rapaz tão bonito, estudado, culto (e segue a linha de eufemismos), não sei por que você se mistura/ouve/curte/gosta". É, não sei tampouco, mas não me preocupo com isso. Perco mais tempo amando, admirando, aprendendo, sorvindo (palavra bacana) os outros do que tentando me entender. Ganho mais com isso.
Cada vez que ouço 'pra mim não serve' me ocorrem dois pensamentos: quanta pretensão e pra mim não serve.
ps: primeiro post feito no meu android, sem revisão, mas acho que foi :)


1/08/2012

scrambled eggs

sim, eu sei entendo
nós dois, ou dous? bem mais que um minuendo
ela diz que não
será só cisma minha então?

sou só marasquino, doce em essência
ela é fresca, natural para o que seja
posso ser essa falência
ela pura perfeita linda cereja

tomarei último banho frio e partirei
quando estamos na cama
ela me trata como um rei

coisa simplória, ovos mexidos
para quem tem e ouça
mensagem secreta para os de ouvidos