Morreu neste domingo Leite, da dupla sertaneja Café com
Leite. O artista, que vivia com ajuda de aparelhos nos últimos 16 anos, não
resistiu ao quadro de infecção generalizada que atacou seu corpo na última
década. Com viúvas por todo país, sua morte infelizmente não causa muita
repercussão, já que foi esquecido pelas novas gerações, conhecedoras de um ou
dois sucessos da dupla, no máximo.
Conheça
a história de Café com Leite
A dupla foi formada em 1894, no sudeste do Brasil, e logo
suas canções ditavam o modo de vida de todo o território nacional, apesar de
suas composições serem de cunho regional, escritas para um pequeno círculo de
admiradores. O primeiro grande sucesso foi “De gola, assim que eu vou, meu amor”,
responsável pela hegemonia se comparado ao de outros artistas. Na mesma época
lançaram “De cabresto e arreio pelo Brasil”, que contavam como era a trajetória
do sertanejo e da população afastada dos grandes centros, onde predominavam as
oligarquias. Outras músicas marcantes foram “Do império pra cá nada vai mudar”,
“Estampa o selo”, “Doente não dá”, “Prudência” e “É uma pena”. Antes de se
separarem pela primeira vez, em 1930, gravaram “Derruba a coluna”, composta por
um macaense.
Rumores apontam que decidiram seguir carreira solo por
discussões internas. Alguns colunistas da época afirmam que foi ciúmes, outros divergências
no cachê, ou até que brigavam para ver quem seria segunda voz. O certo é que
antes de romperem já não faziam tanto sucesso e o vanerão despontava como preferência
popular. Não era a primeira vez que o sul entrava no caminho deles, a canção “Sobrinho”
foi praticamente imposta no repertório dos dois, assim como “Versalhes”, de
compositor paraibano.
Em carreira solo, Café conseguiu emplacar alguns sucessos, inclusive
de alcance internacional, como “Se não vai pra lá vai queimar”, se mantendo
ativo durante toda a carreira, com lançamentos a tempo regulares. Até hoje é
lembrado por “Ouro”, “Martins & Camargo” e “Locomotiva”, todas desta época.
Leite manteve um trabalho mais discreto, porém marcante e voltado ao humor,
como a paródia “A constituição é nossa” (que ironizava o vanerão “Constituição”,
que teve participação de Café na composição) e o hit “Acre, Roraima e Amapá”.
Reconciliação e fim
Com o fim da onda
de vaneirão os dois continuaram em carreira solo por um tempo, mas todas as
gravações foram fracassos de público e crítica, vendendo pouquíssimos álbuns e
quase sem fazer shows. A virada veio em 1985, quando um artista maranhense
gravou “Eu sou direto”, obra prima de Leite. Café resolveu se aproximar e
gravaram “Meu fusca”. Na ocasião um carioca ameaçou tomar as paradas de sucesso
com “Roxo”, mas não teve espaço. Logo depois estourou “É real!”, com arranjos
de samba e um ar de pós-moderno inédito no Brasil. Apesar dos arranjos, é uma
composição típica de Café, que não abre mão dos preciosismos mesmo quando
resolve inovar.
Fizeram shows por
todo Brasil, sucesso total, mas logo depois Leite adoeceu, e Café resolveu
ficar ao lado do companheiro, talvez para compensar os anos em que estiveram
brigados. Como um estava sem forças para gravar, Leite tentava ajudar na
composição, mas as letras eram todas um fracasso, como a releitura de “Serra
serra serrador”. Foi aí que o país conheceu a ciranda e o coco, ritmos
nordestinos que contaminaram todos os brasileiros.
Antes de morrer, Leite escreveu “Bonito e cheiroso”, "Leite em pó" e "Aeroporto" - sendo as duas últimas um completo fracasso, enquanto Café gravava “Sem água na pia” e “São Pedro”, ambas com arranjos do
companheiro.