Para falar de Brasília, chamar turistas e que tais,
poderíamos falar do planejamento da cidade concebida por Lúcio Costa. Em 1893 o
astrônomo Luís Cruls fez diversos estudos do local e apresentou um projeto de
represamento do rio Paranoá, que corre pelo Planalto Central. A ideia de Cruls
era resolver o problema de baixa umidade que assola a região alagando a área
que ficava coberta de água na estação chuvosa, o que não causaria impacto
ambiental muito drástico. Tendo por base o projeto, em 1956 Lúcio Costa e Niemeyer
começaram a desenhar o Plano Piloto, com seus setores organizados e prédios que
parecem obras de arte.
Poderíamos falar que o Lago Paranoá é um dos maiores lagos
artificiais do mundo, com 48Km² de extensão, profundidade máxima de 38m e quase
80Km de perímetro. Estes números significam uma usina hidroelétrica na barragem,
praias artificiais lindas – como Prainha e Piscinão do lago Norte - o Iate Club, com veleiros para todo gosto e
tamanho. No lago são encontradas aves aquáticas, lontras, capivaras, e até uma
espécie nativa de crocodilo, o jacaretinga – que não costuma atacar humanos.
Além de velejar, mergulhar, encontrar amigos para um churrasquinho na margem,
dá para ficar só admirando o lugar, meditando em um fim de tarde, de cima da
ponte JK, ou na “quebra da treze”, point da galera no Lago Norte.
Intrigante sobre Brasília é a fama de que a cidade não tem
esquinas. E não tem. É uma infinidade de rampas, elevados, subidas, descidas,
rotatórias (“balão” por aqui) e pequenos anéis viários (apelidados “tesourinhas”
pelos candangos). Para ser sincero, nem semáforo tem direito, pode-se
atravessar a cidade inteira sem ter que parar em um. Intrigante mesmo, mas que
ninguém fala, é que as edificações do Plano Piloto não têm muros, e muitas
estão sobre os pilotis de Niemeyer. O intuito é não ferir o “direito de ir e
vir” do cidadão. Este tipo de curiosidade dá tanta liberdade que é possível ver
os jovens conversando e se divertindo embaixo dos prédios ou arredores.
Chama a atenção de quem chega o fato das ruas não terem
nomes. “Onde você mora?” é seguido por uma careta e um “que?” quando tem
resposta: SHIN QL 10, (na 13 do Lago Norte pros íntimos). A balada pode ser na 306
sul, ou 202 norte. Funciona assim: a cidade é um “avião”, o Eixão forma as asas
(sul e norte) e o Eixo Monumental forma a nave, a Praça dos Três poderes é a
cabine. No cruzamento dos dois eixos começa uma contagem nas direções norte e
sul, de 1 a 16. No sentido leste (L na linguagem aeronáutica) e oeste (W) ficam
as quadras e vias paralelas ao Eixão. No L estão as 200, 400, 600, 800, no W
100, 300, 500, 700, 900. Combinando as coordenadas temos o endereço – lembra da
primeira balada? Indo para o sul, entre na sexta quadra e suba até a segunda
paralela. Entendeu? Não? Só chegar, é muito fácil.
Mas falarei só uma coisa: não deixem de olhar para o
patrimônio natural de BSB, o Céu!
*nota: em 2007 o arquiteto mineiro Carlos Fernando de Moura
Delphim protocolou o pedido de Patrimônio Natural do Céu de Brasília no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan).